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O CONCEITO DE INOVAÇÃO 

Nos últimos anos, tem-se vindo a assistir a um aumento significativo da utilização da palavra "inovação" na linguagem do dia a dia, começando esta a ter um peso semelhante ao que adquiriu a palavra "qualidade" desde o inicío da década de 90, quando este conceito se impôs em Portugal, intimamente relacionado com o desenvolvimento dos Sistemas da Qualidade. Apesar de o termo "inovação" estar na moda, verifica-se, no entanto, com frequência, a sua utilização abusiva como forma de veicular determinados valores e de os associar a determinados produtos e serviços. 
Na sua essência, qual é o significado desta palavra? Como é que pode ser definida? Por certo, cada pessoa terá uma noção particular do que é inovação. Daí que, quando se procure construir uma definição abrangente, a tarefa se torne mais complexa. Se for colocada a questão a um grupo de pessoas, teremos uma multiplicidade de respostas, aparentemente diferentes. Contudo, analisando separadamente cada uma delas, iremos encontrar por certo um conjunto de elementos-chave comuns. É esta demonstração e a apresentação de uma definição abrangente do conceito de inovação que se irá fazer de seguida.

Etimologicamente, a palavra "inovação" deriva da palavra latina "innovatione", que significa renovação. Diversas organizações, autores e gestores têm-se debruçado sobre a problemática da inovação, pelo que é possível encontrar várias definições e ideias associadas a este conceito. Entre estas, seleccionaram-se algumas para análise e discussão do conceito:

"O oposto da inovação é o arcaísmo e a rotina."
Livro Verde Sobre a Inovação,
Comissão Europeia, 1996.

"Se não conseguir ser diferente está condenado."
Roberto Goizueta, antigo presidente da Coca Cola.

"A inovação é a criatividade mais a sua aplicação."
Bruno Libert, Presidente Director Geral do CGI - Crédit Géneral Industriel.

"A inovação é um processo interactivo e tumultuoso … que liga uma rede mundial de fontes de saber às necessidade subtilmente imprevisiveis dos clientes."
James Brian Quinn.

"A inovação é a produção, assimilação e exploração bem sucedida da novidade."
Livro Verde Sobre a Inovação,
Comissão Europeia, 1996.

"Inovação é a introdução de um novo produto no mercado que teria de ser significativamente diferente dos já existentes. Implica uma nova técnica de produção e a abertura de um novo mercado."
Schumpeter

Na primeira frase da autoria da Comissão Europeia, a inovação é caracterizada por oposição: considerando arcaísmo como a ideia contrária de inovação, é introduzida a noção de que esta implica a quebra de rotinas, de práticas instituídas e nunca questionadas.
Roberto Goizueta apresenta a necessidade de uma empresa ser diferente. Esta ideia está em sintonia com a anterior, dado que uma empresa tem necessariamente que evoluir para se distinguir das demais, mas vai mais além: realça que não basta evoluir, é necessário que nessa evolução a empresa se diferencie dos concorrentes, procurando não só renovar os produtos, processos ou serviços existentes como também criar outros novos.
Esta criação de novos produtos, processos ou serviços depende evidentemente da capacidade criativa. Mas, como Bruno Libert refere, não basta criatividade, é preciso igualmente capacidade para a aplicar devidamente. Inerente a esta noção está a percepção de que uma ideia só por si, por muito interessante que possa parecer, não tem valor se não se conseguir perceber onde e como aplicá-la. O Post-it, reconhecido por todos como uma inovação de sucesso, é disto um exemplo paradigmático. Iniciamente, a 3M havia, por acaso, criado uma cola que não colava bem. Esta cola era o produto inicial em relação ao qual a 3M acreditava que haveria algum potencial. Esse potencial só se concretizou alguns anos depois, quando a 3M encontrou a aplicação: a combinação da cola com o papel para a criação dos pequenos blocos amarelos que conhecemos como Post-it .
James Brian Quinn salienta uma outra vertente da inovação: a necessidade de ligar a capacidade e o know-how às necessidades dos clientes e a importância de saber interpretar e captar estas correctamente. Um outro elemento importante que menciona é a necessidade da interactividade - a capacidade de encontrar os conhecimentos e meios necessários à inovação, dentro ou fora da empresa.
A segunda frase da Comissão Europeia reforça as ideias de Bruno Libert e de Roberto Goizueta. Para além de aplicar (produzir) as ideias (novidades), a empresa tem de assimilar essa inovação na sua organização e integrá-la na sua estratégia de negócio, por forma a potenciar a sua aceitação bem sucedida no mercado. 
A ideia de novidade, de diferenciação do já existente e da interligação entre a empresa (a produção) e os clientes (o mercado) encontra-se expressa na definição apresentada por Schumpeter.
Assim, da análise deste conjunto de ideias e definições é possível extrair um conjunto de elementos que surgem inevitavelmente associados ao termo "inovação". No Livro Verde Sobre Inovação, publicado em 1996, a Comissão Europeia apresentou um conceito abrangente de inovação que enquadra todas as ideias e elementos anteriormente enunciados: 

"Inovação é:

  • A renovação e alargamento da gama de produtos e serviços e dos mercados associados;
  • A criação de novos métodos de produção, de aprovisionamento e de distribuição;
  • A introdução de alterações na gestão, na organização do trabalho, bem como nas qualificações dos trabalhadores."

Nesta definição é possível observar a estruturação do conceito em torno de três blocos principais: a inovação ao nível dos produtos, ao nível dos processos e ao nível das organizações. Estes dois últimos blocos são muitas vezes esquecidos: quando se fala de inovação, esta é na maioria das vezes associada a produtos. Neste livro ir-se-á abordar a inovação na perspectiva abrangente do Livro Verde Sobre Inovação, tal como acima ficou definida.

© Sociedade Portuguesa de Inovação, 1999
Edição e Produção Editorial: Principia.    Execução Técnica: Cast, Lda.