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O "GLOBALIZAÇÃO" OU "MUNDIALIZAÇÃO"

Recentemente tem aparecido como designação alternativa a “globalização” o termo “mundialização”, sendo interessante discutir eventuais diferenças de conteúdo que podem dar azo a visões diferenciadas do processo em curso.

Uma obra recente de M. Marquardt (1999), que aborda o problema da globalização, fornece um bom ponto de partida para discussão. Numa perspectiva muito próxima da que propusemos para definir as várias fases da globalização, introduz o conceito de curva de globalização que configura os vários estádios que uma empresa pode atravessar até ser considerada uma empresa global.

Propõe 4 estádios de desenvolvimento da empresa naquilo que designa por caminho ascendente em direcção ao estádio “global”:

Em primeiro lugar, faz-se notar que a internacionalização é considerada um passo no sentido da globalização, sendo a “multinacionalização” o estádio intermédio entre as duas.
Em segundo lugar, a ideia transmitida de empresa global é integral, não admitindo a existência de qualquer vertente funcional se não for encarada numa lógica planetária, já que Marquardt exige que a cultura empresarial, os recursos humanos, as estratégias, as operações, a estrutura e a aprendizagem sejam todas assumidas a nível global. A designação de empresa global substitui, assim, a de “transnacional”, numa lógica semântica ainda mais agressiva face às nações. Enquanto a transnacional se supõe acima das nações, a global parece ignorá-las pura e simplesmente, olhando para o mundo como um enorme plasma onde se agitam os factores e as tecnologias de produção, os bens e os serviços, permanentemente ao seu alcance.
Finalmente, a globalização emerge como o estádio de actuação das empresas globais, ou seja, é um sistema visto pelos olhos dessas empresas e por elas criado. Esta visão é inequivocamente a de Marquardt, como revela o subtítulo da sua obra How World-Class Organizations Improve Performance Through Globalization.
Para um economista que pretende estudar e interpretar o que se passa nesse sistema, o seu objecto de análise é, então, o mundo como um todo, tal como ele lhe é “deixado” pelas estratégias de globalização das empresas relevantes. Então, podemos afirmar que

a mundialização da economia é a interdependência de todos os sistemas de consumo e de produção existentes no globo, em consequência das estratégias de globalização empreendidas por empresas e grupos económicos.

 

© Sociedade Portuguesa de Inovação, 1999
Edição e Produção Editorial: Principia.    Execução Técnica: Cast, Lda.