Antes da abertura ao comércio internacional, a quantidade oferecida no mercado
doméstico é qd, correspondendo-lhe o preço pd. Com a
abertura ao comércio internacional, o preço cai para pi, aumentando
a quantidade adquirida pelos consumidores domésticos para qe, ao
mesmo tempo que a quantidade produzida internamente cai para qr, o
que significa que se importa a quantidade qe – qr.
Quais as consequências desta alteração?
A principal evidência é o aumento da quantidade
consumida e a diminuição da produzida, devendo-se ainda distinguir entre o que
se passa com as quantidades qd – qr (correspondente à
substituição de produção doméstica por importações) e qe – qd
(tradutora do acréscimo absoluto de consumo por via de importações que não vêm
substituir qualquer produção prévia).
A primeira delas tinha um custo doméstico de produção
equivalente à adição das áreas I e II. Ao ser substituída por importações,
pouparam-se esses recursos internos, mas, em contrapartida, o país teve de
drenar divisas (isto é, créditos sobre o estrangeiro) no valor equivalente à
área II. O saldo desta “operação” traduz-se por um ganho equivalente à
área I, que é integralmente apropriada pelos consumidores sob a forma de
excedente, uma vez que agora pagam menos pela mesma quantidade.
A segunda parcela corresponde a um aumento de satisfação
dos consumidores, à custa de uma saída de divisas equivalente à área IV,
pelo que o excedente dos consumidores se mede pela área III.
Globalmente ganhou-se I + III, sendo o ganho
completamente apropriado pelos consumidores. É razão para dizer que quem ganha
com as importações são os consumidores, perdendo os produtores. Por isso,
não
é de estranhar que sejam em geral os empresários a queixarem-se das importações.
Tal com fizemos para as exportações, também aqui há
lugar a uma reflexão sobre as alterações das hipóteses muito restritivas,
sendo a generalidade das observações feitas válidas com as devidas modificações.
Há, contudo, uma consequência específica das importações que pode ter
efeitos que justifiquem a animosidade que, com frequência, as acompanha. É que
o modelo admite que a área II evidencia poupança de recursos, tendo implícito
que essa poupança se vai transformar
numa aplicação alternativa de igual ou maior rendimento, na lógica de
equilíbrio geral. Mas a realidade é, por vezes, bem diversa e esses
recursos libertados acabam por ficar desempregados,
por falta de usos alternativos, pelo menos no curto prazo. Não é, por isso,
completamente infundada a reacção às importações já não dos empresários,
mas sobretudo dos trabalhadores. É que, pelo menos no curto prazo (e tantas
vezes no médio e longo prazo, devido à rigidez da economia, como o comprovam
elevadas e persistentes taxas de desemprego em muitos países), as exportações
criam emprego e as importações destroem-no. As consequências dinâmicas podem
não ser perniciosas, tudo dependendo da repartição de rendimentos criada e
dos seus efeitos futuros, mas ignorar essa realidade é manifestação de
irresponsabilidade.
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