4.2
AS IMPORTAÇÕES

Como referimos várias vezes, as importações e as exportações são as duas faces da mesma transacção, pelo que a leitura dos efeitos das importações é mutatis mutandis semelhante à das exportações.
Consideremos, então, o mesmo modelo simplificado, com a diferença essencial de que, neste caso, o preço internacional é mais baixo que o preço doméstico, tal como é reflectido na figura 4.2.

  

FIG. 4.2  Efeitos das Exportações.

Antes da abertura ao comércio internacional, a quantidade oferecida no mercado doméstico é qd, correspondendo-lhe o preço pd. Com a abertura ao comércio internacional, o preço cai para pi, aumentando a quantidade adquirida pelos consumidores domésticos para qe, ao mesmo tempo que a quantidade produzida internamente cai para qr, o que significa que se importa a quantidade qe – qr.
Quais as consequências desta alteração?
A principal evidência é o aumento da quantidade consumida e a diminuição da produzida, devendo-se ainda distinguir entre o que se passa com as quantidades qd – qr (correspondente à substituição de produção doméstica por importações) e qe – qd (tradutora do acréscimo absoluto de consumo por via de importações que não vêm substituir qualquer produção prévia).
A primeira delas tinha um custo doméstico de produção equivalente à adição das áreas I e II. Ao ser substituída por importações, pouparam-se esses recursos internos, mas, em contrapartida, o país teve de drenar divisas (isto é, créditos sobre o estrangeiro) no valor equivalente à área II. O saldo desta “operação” traduz-se por um ganho equivalente à área I, que é integralmente apropriada pelos consumidores sob a forma de excedente, uma vez que agora pagam menos pela mesma quantidade.
A segunda parcela corresponde a um aumento de satisfação dos consumidores, à custa de uma saída de divisas equivalente à área IV, pelo que o excedente dos consumidores se mede pela área III.
Globalmente ganhou-se I + III, sendo o ganho completamente apropriado pelos consumidores. É razão para dizer que quem ganha com as importações são os consumidores, perdendo os produtores. Por isso, não é de estranhar que sejam em geral os empresários a queixarem-se das importações.
Tal com fizemos para as exportações, também aqui há lugar a uma reflexão sobre as alterações das hipóteses muito restritivas, sendo a generalidade das observações feitas válidas com as devidas modificações. Há, contudo, uma consequência específica das importações que pode ter efeitos que justifiquem a animosidade que, com frequência, as acompanha. É que o modelo admite que a área II evidencia poupança de recursos, tendo implícito que essa poupança se vai transformar numa aplicação alternativa de igual ou maior rendimento, na lógica de equilíbrio geral. Mas a realidade é, por vezes, bem diversa e esses recursos libertados acabam por ficar desempregados, por falta de usos alternativos, pelo menos no curto prazo. Não é, por isso, completamente infundada a reacção às importações já não dos empresários, mas sobretudo dos trabalhadores. É que, pelo menos no curto prazo (e tantas vezes no médio e longo prazo, devido à rigidez da economia, como o comprovam elevadas e persistentes taxas de desemprego em muitos países), as exportações criam emprego e as importações destroem-no. As consequências dinâmicas podem não ser perniciosas, tudo dependendo da repartição de rendimentos criada e dos seus efeitos futuros, mas ignorar essa realidade é manifestação de irresponsabilidade.

 

© Sociedade Portuguesa de Inovação, 1999
Edição e Produção Editorial: Principia.    Execução Técnica: Cast, Lda.