Como já referimos, ambos os movimentos em epígrafe dão conta da mobilidade de "dentro para fora" de uma área geográfica. E, no entanto, em geral as exportações são "bem vistas" pelo país de "origem" e o investimento no estrangeiro sofre, frequentemente, contestações por parte de alguns nacionais. Porquê?
A teoria clássica do comércio internacional já nos mostrou como há ganhos para os países que entram na troca de bens e serviços, mas também evidenciou que há ganhadores e perdedores, sendo que estes últimos se identificam mais facilmente no campo das importações, surgindo aí, naturalmente, as reservas a esse tipo de transacções. No ponto 5.1 também mostrámos que tais vantagens são possíveis para o mercado de trabalho e sugerimos que,
mutatis mutandis, o seriam também para as aplicações de
capital. Que diferenças existem, então, que justifiquem reacções tão assimétricas?
Desde logo é fundamental distinguir a natureza dos "objectos" que são alvo dos movimentos:
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Isto é, enquanto no caso das exportações não se aliena qualquer capacidade de produção, nem se movimentam pessoas e "posses", no segundo há uma "transferência" dessa capacidade de produção que acarreta o movimento de pessoas ou, o que provoca ainda reacções maiores, há apenas movimento de capitais não acompanhado por movimento de pessoas. A queixa mais ouvida é que "se vai criar emprego no estrangeiro, em vez de criar no próprio país".
Contudo, é óbvio que isto só se faz porque a rendibilidade esperada é maior no estrangeiro que internamente, seja por questões fiscais, por problemas de produtividade, de mercado ou de salários. O que daqui resulta, então, é um ganho global da reafectação do
capital, mas com uma tão grande distorção na apropriação de rendimentos que gera as reacções que já descrevemos. De facto, quem ganha são os "capitalistas" domésticos e a
economia "hóspede" à custa dos trabalhadores locais, designadamente se essa deslocação originou desemprego, já que em situação de pleno emprego esta queixa não faria sentido.
A realidade apresenta-se com um rosto que, por norma, desmistifica esta alternativa entre exportações e investimento no estrangeiro como escolha entre exportar bens e exportar factores. É que, enquanto os bens (ou serviços) são exportados incorporando neles todo o valor acrescentado pelos factores de produção, os investimentos no estrangeiro raramente se fazem por transferência de ambos os factores primários. Ou são capitais à procura de salários mais baixos ou são trabalhadores que emigram em busca de melhores salários. Esta a verdadeira alternativa, sendo certo que a grande mobilidade do
capital lhe confere todas as vantagens nesta antecipação de movimentos. No limite, podemos dizer que, se não houver barreiras institucionais ao seu movimento, os capitais encarregam-se de fazer a
arbitragem dos vários salários ao nível mundial. É, aliás, esta uma das características da globalização, através da qual se tenderia à igualização de salários por todo o mundo à custa da subida dos mais baixos e descida dos mais elevados, se houvesse total flexibilidade também de fixação dos montantes salariais. Dir-se-ia que esta mobilidade dos capitais tenderia a eliminar as assimetrias mundiais, aumentando a eficiência, isto é, pagando menos por cada unidade de trabalho fornecida. No limite, o modelo de equilíbrio geral diria que a competição no mercado de capitais acabaria igualmente por estabelecer rendibilidades mais equitativas, com base no funcionamento dos mercados reais de bens e serviços também sem lucros anormais.
Contudo, a realidade não se revê neste cenário, não só porque o capital é escasso, mas também porque o trabalho não é homogéneo e as instituições e os grupos sociais contam. Esquecê-lo em Economia Internacional é desenhar modelos e propor soluções sem um mínimo de eficácia e de aceitação.
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