Não vale a pena relembrarmos as vantagens das importações nem o papel de desenvolvimento e de criação de
riqueza que os investimentos estrangeiros têm, se nos esquecermos das distorções distributivas que provocam e que são, afinal, as responsáveis pelas animosidades existentes relativamente às transacções descritas. Ignorá-las é criar uma barreira socialmente muito séria à sua concretização e à expressão das suas vantagens, que, assim, terão de ser vistas numa perspectiva de partilha.
Neste particular, a ideia da
coesão económica e social descrita no Acto Único Europeu assume integralmente a necessidade de esta partilha se efectuar em simultâneo com a integral criação do
Mercado Único. Ela manifesta o conhecimento de que a concretização das
quatro liberdades levará a uma mais eficiente afectação dos recursos europeus com ganhos globais positivos, mas que estes não só não serão equitativamente repartidos, como haverá perdedores (regiões, grupos sociais e pessoas) que não podem nem devem ser alienados desta construção. O
Fundo de Coesão é exactamente uma tentativa de ressarcimento dos perdedores e, por isso mesmo, não deve ser encarado como uma ajuda da União Europeia a áreas menos desenvolvidas, mas tão só como uma espécie de pagamento (porventura não equitativo) dos prejuízos que lhes são causados pelo estabelecimento do Mercado Único.
Feita esta observação que releva o papel imprescindível dos
mecanismos de compensação no desenvolvimento da integração dos mercados, deve ainda dar-se uma atenção particular ao papel do IDE, na linha do que referem, por exemplo, Krugman e Obstfeld.
Com efeito, este tem sido, no campo da mobilidade internacional dos factores, o assunto mais debatido, havendo algumas características e políticas associadas que reclamam estudo atento.
O mais interessante é que, do ponto de vista de competitividade de um país na perspectiva da
economia globalizada, o IDE não deve ser confrontado com as importações, mas antes com as exportações. Esta mudança de perspectiva, radica no facto de se considerar que para que haja exportações rendáveis é necessário que os nossos produtos sejam competitivos no mercado mundial desses produtos. De modo semelhante, para que o IDE seja capturado pelo nosso país é necessário que a nossa "plataforma produtiva" - isto é, os preços e a qualidade dos nossos factores de produção, a tecnologia disponível ou assimilável, os recursos naturais, as infra-estruturas e o ambiente institucional - seja atractiva para investidores estrangeiros. É claro que essa atractividade depende do tipo de produto ou de serviço em causa e a remuneração dos factores domésticos vai, em boa parte, depender desse tipo de produtos e este da sofisticação da plataforma existente.
Assim, enquanto as exportações (e os termos de
troca que lhes estão associados) medem a inserção de uma economia no mercado "internacional", a captura de
IDE pode medir, de algum modo, a inserção de uma economia no "mercado mundializado", sendo a remuneração dos factores domésticos daí decorrente um primeiro indicador do nível de sofisticação e sucesso nesse mercado.
É fundamental não esquecer este nível de remuneração, porque senão estaremos a considerar como medida de sucesso as
deslocalizações industriais de produções de países desenvolvidos para áreas menos desenvolvidas em busca de salários baixíssimos ou de regras de protecção ambiental não estritas. Esta observação liga-nos ao problema do papel do
IDE no desenvolvimento e na distribuição mundial de rendimento, temas de grande actualidade e importância que não podem ser desenvolvidos num manual com o alcance deste.
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