INTRODUÇÃO

Se escrever um pequeno manual de Economia Internacional em tempo relativamente curto é um desafio para um especialista, imagine-se o que isso representa para um não especialista, ainda por cima numa época de profundas alterações no quadro da economia mundial, nem sempre adequadamente assumidas nos livros de texto correntes.
A aceitação do desafio deve-se, por um lado, a quem o fez e, por outro, à convicção de que a Economia Industrial, nosso campo privilegiado, pode dar uma leitura diferente e, porventura, fecunda às novas exigências que as alterações recentes da Economia Internacional reclamam.
Entendemos ainda que os destinatários primeiros deste tipo de manuais, de acordo com o projecto conjunto em que se inserem, têm necessidade de se munir do travejamento teórico fundamental para entenderem os mecanismos da Economia Internacional nas suas diversas vertentes, sem que isso equivalha ao conhecimento exaustivo e pormenorizado de uma disciplina de base tal como é desenhada para uma licenciatura em Economia. Nem de outro modo podia ser, já que os melhores manuais de Economia Internacional adoptados nesses casos nunca têm menos de 500 páginas de grande densidade temática.
Além dessa fundamentação teórica, cremos que devem ser transmitidos os novos problemas que a economia em mutação apresenta, bem como as fragilidades dos modelos existentes para lhes dar as respostas adequadas, sem esquecer os pressupostos que lhes estão subjacentes.
Perante este pano de fundo, não se afigura fácil a escolha dos temas a privilegiar, nem da profundidade com que cada um deles deve ser explorado. Optámos, por isso, por uma solução com algum hibridismo, como aliás o impunham, de algum modo, os objectivos variados que se pretendiam atingir.

Desde já queremos afirmar que não é uma abordagem neutra e descomprometida relativamente às matérias expostas, designadamente quando se focam as actuais tendências para a globalização e as políticas públicas e empresariais a desenvolver, na medida em que estando preocupados com o desenvolvimento global e integral de todas e cada uma das pessoas, assinalamos, quiçá com demasiado empenho, os eventuais efeitos perniciosos sobre o agravamento das profundas desigualdades que já existem. Não nos chega saber em que condições as Nações ficam melhor, como tem sido tradição da Economia Internacional. Precisamos garantir que todos os cidadãos dessas Nações são também beneficiados e, se não forem, porquê, para julgar da legitimidade da abordagem empreendida.

Neste contexto, o manual é escrito de modo a permitir acompanhar os livros de texto que consideramos dos mais adequados para um conhecimento aprofundado da ciência económica internacional e que sempre poderão complementar o desenvolvimento dos elementos de base que o manual fornece.
É nesse sentido que os dois capítulos estruturantes, em termos de teoria clássica e das duas facetas mais marcadas da Economia Internacional, são os Capítulos 3 e 6. O primeiro destes, muito extenso, tenta ilustrar as teorias mais importantes do Comércio Internacional, que constituíram o cerne da Economia Internacional durante muito tempo. 
O Capítulo 6 foca em particular os aspectos monetários e financeiros das trocas internacionais, crescentemente relevantes com a grande mobilidade de capitais que caracteriza a mundialização dos mercados, consequência das modificações institucionais proporcionadas pela sociedade de informação.
Reconhece-se algum desequilíbrio entre o desenvolvimento dos dois capítulos, mas isso decorre do privilégio dado à economia real relativamente à financeira, fruto da invocação prioritária dos contributos da economia industrial e da convicção de que para um país como Portugal, incluído numa União Monetária, são os aspectos da economia real, designadamente os ligados à competitividade, que mais marcantes vão ser para a sua afirmação no mercado mundializado.
Por isso mesmo, é dado um destaque especial, ainda na linha dos desenvolvimentos mais clássicos, aos efeitos das políticas comerciais e das restrições ao comércio internacional (Capítulo 4). 
Já a temática da mobilidade internacional dos factores (Capítulo 5), à qual concedemos grande atenção, é um dos aspectos menos desenvolvidos nos livros de texto clássicos, com grave prejuízo para o entendimento do verdadeiro fenómeno da integração económica e da globalização.
Descrito o conteúdo teórico relevante, importa salientar que o manual abre com um Capítulo que consideramos básico para a leitura das características económicas e sociais dos países e das eventuais comparações entre eles, designadamente a definição dos indicadores de rendimento e de riqueza, sem esquecer quer as suas imperfeições, quer as enormes dificuldades para a sua concretização estatística em bases de grande credibilidade.
A este capítulo segue-se um outro (Capítulo 2) que poderia, em alternativa, constituir o fecho deste manual. Optámos por o apresentar de início por entendermos que valia a pena que o estudo das teorias fosse feito tendo como referência as novas características da economia internacional e as tendências para as suas modificações perante as solicitações que decorrem da chamada "economia digital".
Temos consciência que o manual é bastante heterodoxo quer no que toca à sua organização, quer no tratamento de alguns dos assuntos, sem prejuízo de se procurar manter grande fidelidade à descrição das abordagens clássicas. Mas foi a aceitação dessa heterodoxia que esteve na base da execução deste manual, que fica aberto a óbvios melhoramentos a que todas as tentativas diferenciadoras naturalmente apelam.

José Amado da Silva

 

© Sociedade Portuguesa de Inovação, 1999
Edição e Produção Editorial: Principia.    Execução Técnica: Cast, Lda.