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O PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB)

O PIB é, sem dúvida, o mais referido indicador económico quando se visa descrever a economia de um país. Em boa verdade, até é frequentemente assumido como o indicador do poder económico de um país, conferindo-lhe um poder explicativo porventura bem para além das suas reais capacidades.
Por exemplo:

  • O famoso " Grupo dos Sete" (G-7), constituído pelos Estados Unidos da América, Japão, Alemanha, Canadá, França, Reino Unido e Itália, é a expressão viva desta hierarquização dos países com base no critério dos valores dos PIB, critério esse que justificou, em anos recentes, a agregação da Rússia.
    A pertença a esse grupo restrito é sinal de poderio económico e há uma ambição clara de vários países em integrá-lo
    .

O grande mérito deste indicador é a univocidade da sua definição, o que não deve ser entendido como univocidade do seu cálculo ou da sua estimação, como evidenciaremos.
Assim,

o PIB de um País (ou de uma região) é a soma dos Valores Acrescentados Brutos (VAB) gerados por todas as unidades produtivas localizadas nesse País (ou região), durante um ano.

É, portanto, um conceito associado à geografia e de identificação unívoca, uma vez que cada unidade produtiva só tem, obviamente, uma localização. Contudo, quando se passa à estimação concreta do seu valor num dado país, surgem as indefinições, designadamente na identificação do que é uma unidade produtiva, bem como na contabilização das componentes do VAB.
A primeira indefinição é bem ilustrada pela conhecida frase de Paul Samuelson - " Quando o patrão casa com a governanta, o PIB desce".
A segunda é ilustrada pelos diferentes níveis de rigor de contabilização das unidades produtivas e das informações fornecidas às Instituições que têm o encargo de fazer as estimativas oficiais do PIB.
Quer isto dizer que o PIB de um país, que deveria descrever todo o valor aí gerado, vai ter uma expressão numérica claramente dependente da sua organização institucional, do nível de recolha estatística e da seriedade das informações prestadas pelas unidades produtivas. Em particular, um país com uma área apreciável de economia informal acaba por referir um valor de PIB manifestamente inferior a outro cujo volume de produtos e serviços seja rigorosamente o mesmo, mas que tenha passado pelos circuitos formais da economia.
É certo que os Institutos de Estatística já têm processos de imputação dessas actividades informais, por analogia com o que se passa nos mercados. Mas, também aí, o instrumental estatístico é bem mais poderoso nos países mais desenvolvidos, o que indicia a possibilidade de os valores para esses países virem relativamente acrescidos por comparação com os dos menos desenvolvidos.

Consideremos dois países com dimensões e estruturas económicas e populacionais rigorosamente idênticas, o que configura uma situação de igualdade de PIB e de níveis económicos.
Admitamos, agora, a introdução de uma diferença no modo de lavagem da roupa. No país A, todas as famílias têm máquinas de lavar e secar a roupa em casa. No país B, todas as famílias vão lavar e secar a roupa em lavandarias comerciais. 
Admitamos, ainda, que não há economias de escala no investimento em máquinas - isto é, o custo do conjunto do equipamento das lavandarias é igual ao que está em casa das famílias - nem na exploração - isto é, os gastos de água, electricidade, detergentes e manutenção são também iguais. Além disso, suponhamos que a origem das máquinas e de todos os custos de exploração é a mesma.
Como as lavandarias enviam as suas contas relativas às lavagens para o Instituto de Estatística e as famílias não, o PIB do país B, na ausência de imputações, seria superior ao do país A. Se admitirmos, como é corrente, que a maior PIB corresponde maior bem-estar, estaremos a afirmar que "é melhor andar com a trouxa de roupa às costas do que lavá-la no conforto e no horário livre que a casa de cada um proporciona".

 

© Sociedade Portuguesa de Inovação, 1999
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