“A criatividade consiste em criar muitas ideias, não em ficar à
espera que surja uma grande ideia.”
Charles Thompson
|
|
Quando se
fala de gestão da inovação, pode-se ter em mente uma de duas dimensões
diferentes que é importante distinguir:
|
|
·
criação e
desenvolvimento de uma nova estratégia, orientada para a inovação, com
eventuais repercussões na organização da empresa;
|
·
criação e execução
de projectos de inovação.
|
|
No primeiro
caso, pensamos num exercício de fundo: analisar a situação presente da
empresa, as necessidades e oportunidades de inovação, definir uma estratégia
e o lançamento de vários projectos que materializem os resultados deste exercício.
Há dois termos frequentemente usados para este tipo de trabalho: BPR
(do inglês business process
reengineering) e BPI
(business process innovation), isto é,
reengenharia (ou inovação) dos processos da empresa. Muitas das técnicas de
gestão da inovação referidas como tal (IMT , do inglês innovation
management tools) dizem respeito a esta actividade, dado que a sua
profundidade requer uma abordagem bem planeada.
|
No entanto,
“gestão da inovação” pode também referir-se à actividade quotidiana de
inovação na empresa (uma “carteira de projectos”), quer ela já tenha
passado por uma reengenharia de processos e atingido uma “velocidade de
cruzeiro”, quer tenha optado por começar por gerir alguns projectos de inovação
antes de mudar o seu posicionamento estratégico em relação a esta vertente.
Também esta gestão quotidiana tem as suas técnicas próprias: as de carácter
organizativo são já mais conhecidas da gestão de projectos em geral, as de
cariz cognitivo um pouco menos divulgadas. Já foi referido que a inovação
deveria de facto começar pelas organizações, de modo a criar o ambiente
adequado a uma gestão eficiente da inovação nos processos, produtos e
mercados, pelo que fará mais sentido encarar esta “gestão corrente” após
um trabalho de reengenharia abrangente.
|
Podemos
fazer um paralelo entre a gestão da inovação e a gestão da qualidade: um
trabalho de fundo inicial que abranja todas as funções e operações da
empresa é um requisito essencial para garantir um ambiente propício à gestão
eficiente da qualidade (e talvez o maior benefício da implementação de um
sistema de qualidade). Enquanto no caso da qualidade todos os processos e
interacções são analisados do ponto de vista da garantia da qualidade óptima,
no caso da inovação os interesses são mais variados: eficiência,
melhoramento, rentabilidade, produtividade, novos produtos, novos mercados,
qualidade também, claro – embora neste caso com particular ênfase para novas
(melhores) características de qualidade.
|
Podemos
distinguir genericamente quatro fases em qualquer trabalho deste tipo (desde
reengenharia dos processos da empresa até um simples projecto):
|
|
Estas fases
são sequenciais, mas pode haver recirculações devido à natureza inovadora
(portanto exploratória) de muitos trabalhos: na fase de execução acontece por
vezes identificar-se um novo problema que é preciso resolver para avançar, ou
surgir uma nova ideia, gerando-se um novo ciclo em torno desse ponto (sub-ciclo
do principal). Estes conceitos estão esquematizados na figura 3.1.
|
|
|
 |
Um dos
princípios fundamentais para um modo de trabalho mais
eficaz em projectos de inovação é separar bem a natureza diferente de cada
fase do trabalho. |
|
|
|
|
Idealmente,
o modo de trabalhar e a atitude das pessoas envolvidas nos trabalhos deveria ser
diferente, ajustando-se a esta natureza:
|
·
A identificação de
problemas é um trabalho desejavelmente exaustivo, que deve ser concreto
e carece de raciocínio analítico e objectivo.
·
A identificação de
oportunidades é um trabalho preferencialmente exaustivo
que pode ser abstracto, envolvendo
raciocínio analítico que pode ser subjectivo.
·
A geração de ideias
é um trabalho desejavelmente exaustivo
e possivelmente abstracto, que requer
um espírito criativo, normalmente subjectivo.
·
A análise é
preferencialmente um trabalho exaustivo
(embora direccionado para pontos específicos) que tem de ser concreto,
necessitando de um raciocínio analítico
e objectivo.
·A selecção de opções
é um exercício necessariamente limitado
e concreto, que envolve por vezes
raciocínios sintéticos que devem
ser objectivos.
·
O planeamento e a
execução são também trabalhos necessariamente limitados
e concretos, que envolvem um espírito sintético (embora também haja provavelmente tarefas analíticas) e
objectivo.
|
|
Fig. 3.1
Fases
de trabalhos de inovação e sua natureza.
|
|
|
|
Embora a
personalidade e comportamento de cada indivíduo privilegiem normalmente um
determinado tipo de raciocínio e abordagem (há pessoas mais analíticas e
objectivas, outras mais abstractas e subjectivas), é possível exercitar diferentes comportamentos sob determinados estímulos.
|
A
psicologia do comportamento associa os aspectos emocionais, intuitivos,
criativos e primários ao hemisfério direito do cérebro, enquanto os aspectos
racionais, objectivos, sociais e culturais se associam ao hemisfério esquerdo
(por curiosidade, refira-se que o hemisfério esquerdo do cérebro controla o
lado direito do corpo e vice-versa).
|
Assim, numa
fase de geração de ideias, por exemplo, gostaríamos de funcionar só com o
hemisfério direito, impedindo o esquerdo de filtrar a criatividade e intuição.
Já numa fase de análise precisaríamos do contrário, funcionando
preferencialmente com o hemisfério esquerdo e evitando que o direito
prejudicasse a racionalização e capacidade de concretização com a sua
“rebeldia” natural.
|
Os estímulos
ambientais e culturais têm uma influência muito marcante na predominância de
um destes factores no comportamento social. Isso é visível no modo como as
culturas de raiz calvinista-protestante formam mais frequentemente indivíduos
racionais, concretos e objectivos, em comparação com as culturas de raiz católica
onde predomina a emotividade, abstracção e criatividade (note-se que as
diferenças entre Norte e Sul da Europa só se tornaram marcantes após a
clivagem cultural estar já bem instalada). Da mesma forma, os quadros de
empresas são por excelência racionais, concretos e objectivos, enquanto os
artistas (por exemplo) são por definição emotivos, abstractos e criativos.
Evidentemente, a relação causa-efeito (qual é a causa e qual é o efeito?) é
um motivo de discussão sem solução, mas a factualidade desta observação
mantém-se: há uma relação entre o ambiente sócio-cultural e a predominância
do tipo de comportamento.
|
Da breve
discussão anterior ressalta uma conclusão óbvia: devemos dar particular atenção
às técnicas resultantes da aplicação da psicologia do comportamento aos
trabalhos de inovação nas fases criativas e inovadoras. A tendência do tipo
de comportamento exigido pelas funções empresariais é a rotina e o raciocínio
concreto e objectivo. A principal dificuldade não é desenvolver técnicas de
execução e gestão de projectos, mas sim “libertar” o hemisfério direito
do cérebro dos quadros empresariais e restringir o esquerdo em determinadas
ocasiões.
|
|
|
 |
As
diferentes fases de um trabalho de inovação requerem diferentes tipos de
comportamento e abordagem das situações. Podem ser utilizadas técnicas
cognitivas que estimulem o tipo de comportamento necessário em cada caso.
|
|
|
|