3.8
CONCLUSÕES

"Não procures seguir as pisadas dos homens sábios do passado, procura antes aquilo que eles procuraram."
Basho

Este capítulo levou-nos a explorar muitos assuntos relevantes à organização das empresas, uma vez que a gestão da inovação defendida nos capítulos anteriores nos obriga a envolver toda a empresa e a trabalhar todas as relações internas e externas. A gestão da inovação direccionada para o mercado, que vai criando competências específicas na empresa (a sua knowledge-base), quer em determinadas áreas de competência, quer na forma de trabalhar, quer ainda nas metodologias de operação necessárias ao sucesso do seu posicionamento, resulta efectivamente numa nova cultura da empresa. Esse ambiente é semelhante ao da qualidade total, acrescido da busca contínua de novos melhoramentos, produtos, processos ou mercados. "Qualidade" e "Inovação" tornam-se impossíveis de separar.
A empresa que activamente envolve toda a sua estrutura na responsabilização pelo sucesso da inovação, cria um negócio cada vez mais baseado em conhecimento intensivo (knowledge intensive), isto é, enquanto no passado se procurava diferenciar de outras pelas suas tecnologias, passa agora a fazê-lo pelo seu conhecimento - o que, no âmbito em que falamos, implica também o conhecimento dos seus mercados e da forma de os trabalhar. Estes são os aspectos mais fundamentais à diferenciação das "empresas do futuro". Se não houver uma determinada tecnologia dentro da empresa, esta poderá ir buscá-la noutro lado, mas se não tiver conhecimento do mercado e se não souber trabalhar para ele, onde vai buscar esse valor intangível?
Esta passagem progressiva para uma situação em que a empresa valoriza o conhecimento enquanto "activo não-quantificável" é expressa na máxima inglesa " os nossos recursos humanos são os nossos principais activos" (our human resources are our best asset), particularmente vulgar nas empresas modernas de tecnologias de informação. Este conceito vai-se disseminando através de todos os sectores, à medida que "qualidade total" e "inovação" deixam de ser novas modas e passam a constituir atitudes normais no quotidiano da empresa. 
A importância do factor humano, seja na empresa, seja nos mercados, é cada vez maior, o que tem provocado um grande interesse por técnicas cognitivas e todo um conjunto de interessantes estudos sobre a aplicação de princípios da psicologia social e do comportamento em ambientes empresariais. Estas questões são sobretudo relevantes na gestão da inovação, em que limitar o factor criativo praticamente significaria fechar as portas à inovação.
É importante não esquecer que a psicologia e a sociologia não são ciências exactas: não podem ser tratadas da mesma forma que a engenharia mecânica ou a informática. Em princípio, uma máquina funciona da mesma forma seja em que empresa for, uma técnica cognitiva não. Pela sua natureza, depende de expectativas, experiência anterior, perspectivas pessoais, ou seja, o sucesso de uma determinada técnica em diferentes empresas varia tanto quanto as empresas, como elemento social, variam umas das outras.
 

Não há nada que tenha melhor resultado do que fazer e aprender fazendo.


Uma empresa pode utilizar assistência externa como ponto de partida ou catalisadora de um processo, mas a gestão da inovação deve ser conduzida por si e adaptada às realidades e necessidades específicas da empresa, dos seus quadros e do seu ambiente (fornecedores, clientes, investidores, etc.). Para um consultor externo ser útil, tem de conhecer a empresa profundamente em todas as suas dimensões. Aplicar soluções desenvolvidas em qualquer outro sítio, por melhor que sejam potencialmente, é um erro. Isto não implica que o benchmarking ou a aplicação de metodologias de trabalho desenvolvidas em outros ambientes não seja útil, antes pelo contrário. O que estamos a dizer é que se trata de pontos de referência que devem ser trabalhados descomplexadamente por uma equipa capaz de inovar: ajustar o que for necessário para que as soluções de outros se transformem na nossa melhor solução.
Na gestão da inovação há várias aplicações informáticas que se podem relevar muito úteis. Alguns exemplos foram referidos no texto. O objectivo destas aplicações é facilitar a sistematização da informação gerada e a sua visualização de forma clara e facilmente perceptível por todos. Como em muitas outras áreas das tecnologias informáticas, é possível trabalhar sem elas, mas levaríamos mais tempo e não obteríamos um resultado tão bom.


Esta abordagem não é, contudo, senão uma fotografia parada no tempo - tudo continua em evolução e, tendo chegado a este ponto, podemos começar a perspectivar o futuro: já estamos satisfeitos com o nosso nível de gestão de inovação - e agora?

© Sociedade Portuguesa de Inovação, 1999
Edição e Produção Editorial: Principia.    Execução Técnica: Cast, Lda.