1.2.

EXPORTAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E MERCADO DO “PRODUTO

Tendo definido a internacionalização de um modo abrangente, que incorpora todas as terminologias em voga que andam em torno do problema e que, como mostramos no Capítulo 2 do manual Economia Internacional, tantas vezes vêm confundidas, importa agora situar a empresa perante cada uma das alternativas que se lhe deparam, a fim de identificar as diferentes características concorrenciais que cada uma delas incorpora e, bem assim, avaliar as perspectivas de lhes fazer frente, seja por antecipação, seja por reacção.
Assim, a situação mais simples é a de exportação que traduz o alargamento do mercado geográfico da empresa que exporta (tal como a importação acarreta, indirectamente, a extensão do mercado geográfico das empresas domésticas que vêem aparecer, através do seu produto, um novo concorrente no mercado).

Ambos os movimentos mantêm a natureza da competição, que se processa no mesmo mercado do produto, embora com concretizações diferenciadas da extensão geográfica. A exportação atinge potencialmente novos clientes situados fora do país, configurando uma concorrência localmente acrescida que as empresas do país de destino terão de defrontar. Em contrapartida e reciprocamente, a importação diminui potencialmente os clientes locais devido ao acréscimo de competição doméstica imposta pelo produto importado.
A comparação dos dois movimentos mostra bem como a exportação é um movimento activo, votado à ampliação do mercado da empresa, enquanto a importação é para a empresa “vítima” da presença de um novo competidor uma consequência sofrida, potencialmente redutora da sua clientela ou das margens  negociais.
Note-se, contudo, que se esta distinção separa actores de “vítimas”, não deixa de ser algo artificial já que exportação e importação são, como sabemos, duas faces da mesma moeda, traduzindo um só movimento susceptível de duas leituras diferentes consoante elas se façam na origem ou no destino daquele. O que importa relevar é que as consequências são mais directamente sentidas no destino do movimento, pelo menos no primeiro instante, o que revela o carácter agressivo da exportação.
De um ponto de vista de gestão estratégica é curial perceber a natureza potencialmente agressiva da exportação, impondo a sua concretização um estudo prévio e cauteloso não só dos potenciais clientes e das condições concorrenciais prevalecentes no novo destino (aquilo que vulgarmente é designado, erradamente, por estudo de mercado), mas também das possibilidades de retaliação no mercado de origem das empresas (ou até dos “produtos”) que se vêem confrontados com um novo desafio. Quer isto dizer que perspectivar uma exportação na lógica tradicional e exclusiva do estudo do mercado de destino é falhar rotundamente a definição de base do novo mercado geográfico relevante
, aumentado (e, não o esquecer, potencialmente nos dois sentidos) pela nova estratégia cujas consequências devem ser estudadas ex ante no novo mercado expectavelmente alargado e já não no que existe previamente ao movimento estratégico em apreço. No fundo, perspectivando as possibilidades de retaliação, o que estamos a descrever é um mercado “doméstico” alargado, se não existirem, é claro, quaisquer tipos de entraves fronteiriços, como é o caso da União Europeia (e daí a designação de Mercado Interno ou Mercado Único). No caso de entraves fronteiriços, o estudo alargado é não menos relevante, incorporando ainda a avaliação institucional da simetria ou da assimetria das condições aduaneiras entre os países de origem e destino, que podem, eventualmente, beneficiar um ou outro dos actores.
Dissecadas as características destes movimentos de internacionalização
, importa  salientar:

  • a manutenção da natureza da competição que as empresas já defrontavam previamente aos movimentos efectuados;

  • o alargamento do mercado geográfico relevante  para a empresa que faz o movimento e para as empresas que vendem no país de destino;

  • a possibilidade de aumento de competição no país de origem em resultado de movimentos de sentido contrário.

 

© Sociedade Portuguesa de Inovação, 1999
Edição e Produção Editorial: Principia.    Execução Técnica: Cast, Lda.