Tendo definido a internacionalização
de um modo abrangente, que incorpora todas as terminologias em voga que andam em
torno do problema e que, como mostramos no Capítulo 2 do manual Economia
Internacional, tantas vezes vêm confundidas, importa agora situar a empresa
perante cada uma das alternativas que se lhe deparam, a fim de identificar as
diferentes características concorrenciais que cada uma delas incorpora e, bem
assim, avaliar as perspectivas de lhes fazer frente, seja por antecipação,
seja por reacção.
Assim, a situação mais simples é a de
exportação que traduz o alargamento
do mercado geográfico da empresa que exporta (tal como a importação acarreta, indirectamente, a extensão do mercado geográfico
das empresas domésticas que vêem aparecer, através do seu produto, um novo
concorrente no mercado).
Ambos os movimentos mantêm a natureza
da competição, que se processa no mesmo mercado do produto, embora com
concretizações diferenciadas da extensão geográfica.
A exportação
atinge potencialmente novos clientes situados fora do país, configurando uma
concorrência localmente acrescida que as empresas do país de
destino terão de defrontar. Em contrapartida e reciprocamente, a importação
diminui potencialmente os clientes locais devido ao acréscimo de competição
doméstica imposta pelo produto importado.
A comparação dos dois movimentos
mostra bem como a exportação é um movimento activo,
votado à ampliação do mercado da empresa, enquanto a importação é
para a empresa “vítima” da presença de um novo competidor uma consequência
sofrida, potencialmente redutora da
sua clientela ou das margens negociais.
Note-se, contudo, que se esta distinção
separa actores de “vítimas”, não deixa de ser algo artificial já que
exportação e importação são, como sabemos, duas faces da mesma moeda,
traduzindo um só movimento susceptível de duas leituras diferentes consoante
elas se façam na origem ou no destino daquele. O que importa relevar é que as
consequências são mais directamente sentidas no destino do movimento, pelo
menos no primeiro instante, o que revela o carácter agressivo da exportação.
De um ponto de vista de gestão estratégica
é curial perceber a natureza potencialmente agressiva da exportação, impondo
a sua concretização um estudo prévio e cauteloso não só dos potenciais
clientes e das condições concorrenciais prevalecentes no novo destino (aquilo
que vulgarmente é designado, erradamente, por estudo de mercado), mas também
das possibilidades de retaliação no mercado de origem das empresas (ou até
dos “produtos”) que se vêem confrontados com um novo desafio. Quer isto
dizer que perspectivar uma exportação na lógica tradicional e exclusiva do
estudo do mercado de destino é falhar rotundamente a definição de base do
novo mercado geográfico relevante , aumentado (e, não o esquecer, potencialmente nos dois
sentidos) pela nova estratégia cujas consequências devem ser estudadas ex ante no novo mercado expectavelmente alargado e já não no que
existe previamente ao movimento estratégico em apreço. No fundo,
perspectivando as possibilidades de retaliação, o que estamos a descrever é
um mercado “doméstico” alargado, se não existirem, é claro, quaisquer
tipos de entraves fronteiriços, como é o caso da União Europeia (e daí a
designação de Mercado Interno ou Mercado Único). No caso de entraves
fronteiriços, o estudo alargado é não menos relevante, incorporando ainda a
avaliação institucional da simetria ou da assimetria das condições
aduaneiras entre os países de origem e destino, que podem, eventualmente,
beneficiar um ou outro dos actores.
Dissecadas as características destes
movimentos de internacionalização , importa salientar:
-
a manutenção da natureza da competição que as
empresas já defrontavam previamente aos movimentos efectuados;
-
o alargamento do
mercado geográfico
relevante
para a empresa que
faz o movimento e para as empresas que vendem no país de destino;
-
a possibilidade de aumento de competição
no país de origem em resultado de movimentos de sentido contrário.
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