Como se refere no Capítulo 2 do manual Economia Internacional, o conceito puro de "internacionalização" implica a separação dos mercados nacionais, aparecendo as trocas como operações entre nações que mantêm, pelo menos parcialmente, os seus mercados separados. O que confere a característica base desta separação é, como sabemos, a relativa estabilização dos factores de produção face à muito maior fluidez dos produtos. A internacionalização esteve por isso mais ligada (se não mesmo exclusivamente ligada) ao
laisser passer, isto é, à liberdade de comércio de
produtos, do que ao laisser faire, isto é, à liberdade de estabelecimento ou liberdade de circulação de
factores.
Ora é exactamente esta a novidade de muitas das estratégias designadas por "internacionalização" associadas às empresas que, se mantêm o seu sentido em termos de soberania política, perdem-no em parte se mantivermos as referências económicas tradicionais. De facto, mesmo nos actuais Sistemas de Incentivos no âmbito do 2º Quadro Comunitário de Apoio, assume-se como estratégia "nobre" de internacionalização o investimento no estrangeiro e já não só a exportação.
Mas isto significa uma mudança na natureza da internacionalização bem como dos seus efeitos, quer na origem, quer no destino. Investir no estrangeiro, independentemente das motivações subjacentes (posto que elas não sejam irrelevantes para ajuizar da sua lógica nem da sua configuração óptima), significa em geral aumentar a competição no mercado de destino, tal como no caso da exportação, mas localizando aí a própria produção,
isto é, criando aí parte relevante do Valor Acrescentado e recrutando a generalidade dos empregados. É este facto que faz, de algum modo, com que no destino tal movimento seja visto com melhores "olhos" que a importação, ao contrário do que se passa na origem. Basta lembrarmo-nos das afirmações que se ouvem com frequência quando se anuncia um investimento português no estrangeiro:
"Em vez de criarem emprego em Portugal, vão criá-lo lá fora."
Mesmo que se diga que esta é uma maneira reducionista de ver o problema, e é-o efectivamente, não deixa de ser uma expressão com um forte conteúdo de realidade - a de criação de emprego "lá fora" - que a empresa tem que levar em atenção na assunção da sua estratégia, e que está completamente ausente no caso das exportações.
Este movimento ultrapassa a ideia de que uma empresa portuguesa é aquela que produz em Portugal (o que não acontecia necessariamente com a internacionalização por exportação), admitindo ou mesmo "impondo" que a plataforma produtiva se estabeleça em qualquer parte do mundo, atentas as oportunidades e os objectivos. É, pois, num contexto de
mundialização das actividades que este movimento de "internacionalização" mais amplo tem que ser entendido, com todas as implicações estratégicas associadas e que abordaremos no capítulo
seguinte. 
Por agora, e em resumo, importa ter presente que:
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a mundialização da economia tem
como característica a mobilidade de recursos por todo o planeta numa lógica de afectação que tende a ter expressão planetária;
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com a mundialização esbate-se a ideia de mercado doméstico quer em termos de bens, quer em termos de factores de produção;
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com a emergência da mundialização, a empresa tem que desenhar a sua estratégia numa perspectiva alargada de competição, já não só dos seus produtos mas também dos factores de que necessita, aí incluindo a possibilidade de perda da própria autonomia.
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