1.1
INOVAÇÃO

Quando se fala em Inovação, é natural que o leitor imagine de imediato e associe o termo ao último modelo de máquinas fotográficas digitais que viu dias antes anunciado numa revista, ao computador que tira partido de um novo processador, ou ao telemóvel com capacidades elaboradas de obtenção de informação, decorrentes dos avanços mais recentes no campo das telecomunicações.
De facto, no nosso dia-a-dia e no léxico de senso comum, a palavra Inovação é ainda predominantemente relacionada com sortidos de produtos ou serviços que exploram novos desenvolvimentos tecnológicos.
Importa por isso, e desde já, alertá-lo para o facto de se estar a tornar consensual e evidente que o conceito de Inovação não pode nem deve esgotar-se de forma alguma na vertente de desenvolvimento tecnológico, revestindo-se de outros matizes e tomando diversas formas. Por exemplo, Zaltmam et al. (1973)
identificam Inovação como dizendo respeito a qualquer

"ideia, prática ou objecto material considerado como novo pela entidade relevante em termos da correspondente adopção".

Alarga-se desta forma o conceito, não se limitando ao produto e respectiva evolução suportada pelo progresso tecnológico. Pode-se assim falar de inovação ao nível da estratégia (Hamel e Prahalad, 1994) , da gestão dos recursos, da concepção ou acompanhamento dos processos, das formas de organização e estruturas, da vertente financeira, da produção, da distribuição, do marketing e comercialização, das marcas, das políticas de remuneração e recompensa, da gestão da qualidade ou ambiental, em suma, em todas as actividades relacionadas com a forma de ser e de estar de uma organização.
Por sua vez, Peter Drucker (1985)
define inovação como sendo a

Próximo conceito

"ferramenta específica dos empresários, o meio através do qual eles exploram a mudança como oportunidade para um negócio ou um serviço diferente. É possível apresentá-la sob forma de disciplina, aprendê-la e praticá-la".

Próximo conceito

Distingue-se assim claramente Inovação da Invenção, inconsequente pelo menos no curto ou médio prazo em termos de potencial de negócio (os inventos de Leonardo da Vinci continuam vivos e actuais 500 anos depois, mas no Renascimento não poderiam ter sido convertidos em Inovação, com a tecnologia e os materiais então existentes). Por outro lado, Drucker aponta claramente para a necessidade de a Inovação ser gerida de forma profissional e eficaz (sendo esta a razão pela qual existem organizações muito mais inovadoras - a 3M é já um clássico nesta matéria - do que outras, que esperam que a inovação aconteça espontaneamente), em vez de ser vista como fruto do acaso ou do mero rasgo aleatório de génio de um qualquer funcionário mais curioso.

 

Um dos quatro produtos de escritório mais populares no mundo inteiro é, actualmente, o Post-it. Este papelinho amarelo com uma banda adesiva que adere com facilidade às superfícies lisas foi concebido por Arthur Fry, cientista na 3M Company, e o que parecia ser de início uma ideia sem grande futuro tornou-se assim num dos produtos mais rentáveis de sempre da história da empresa. O lançamento do Post-it e seu posterior sucesso só foi possível graças a uma cultura própria da 3M, centrada na Inovação, e baseada em seis pré-requisitos:
 
1. Visão: a visão da 3M é explícita em relação à Inovação (Queremos ser a companhia mais inovadora (…) bem como o fornecedor preferido), e todos os funcionários da empresa são constantemente alertados para que os seus esforços apontem nesse sentido; caso contrário, deverão reinventar o trabalho e papel que desempenham na empresa.
   
2.  Perspicácia: para inovar é necessário ter perspicácia para compreender as tendências dos consumidores e do mundo, quais as mudanças que estão para acontecer e as necessidades latentes dos clientes.
   
3. Objectivos Ambiciosos: a 3M estabelece à partida objectivos extremamente ambiciosos, de modo a provocar melhorias quânticas. Um dos objectivos globais assumidos pela empresa é uma métrica de velocidade de inovação, que consiste em considerar que 30% do volume de facturação deve constantemente resultar das vendas de produtos com um tempo de introdução no mercado inferior a quatro anos. Com a finalidade de tornar este objectivo ainda mais ambicioso, e dotá-lo de carácter de urgência, a 3M decidiu adicionar-lhe outra meta: 10% do total das vendas deve ser proveniente de produtos com menos de um ano de vida. Quantas empresas no mundo serão capazes de competir, em termos de velocidade de inovação, com estes indicadores da 3M?
   
4. Liberdade/Empowerment: uma das máximas da 3M consiste em contratar excelentes colaboradores, dando-lhes depois plena liberdade e confiando no seu desempenho. Pratica-se internamente a regra dos 15%, a qual permite que todos os funcionários dediquem 15% do seu tempo a projectos da sua própria autoria, funcionando durante esse período em auto-gestão e não sendo de forma alguma penalizados por qualquer tipo de erro que daí decorra. Existe também um forte estímulo e apoio para que os colaboradores se assumam como empresários dentro da própria empresa, levando os seus projectos inovadores até à comercialização.
   
5. Comunicação/Networking: o quinto imperativo da Inovação centra-se na comunicação. Só através de um sistema eficaz de comunicação entre os vários departamentos, níveis hierárquicos da empresa e unidades espalhadas pelo globo conseguirá florescer a Inovação na 3M .
   
6. Recompensa/Reconhecimento: a 3M gosta de ver a Inovação reconhecida e, para isso, desenvolve programas de reconhecimento e recompensa que abrangem a quase totalidade de funções e colaboradores.
   
 

Fonte: Nicholson, G., "Innovation: a survival issue", págs. 25-30

   

   

Se a invenção tem sido uma constante ao longo da história da humanidade, é apenas com a revolução industrial, no início do século XVIII, que o fluxo de inovações tecnológicas se torna quase contínuo. A primeira fase do processo centrou-se na utilização do vapor como forma de energia, na melhoria substancial das técnicas agrícolas e nas indústrias têxtil e do ferro. A segunda fase, em meados do século XIX, envolveu as indústrias química e do aço, os meios de transporte fluviais e marítimos e o caminho-de-ferro. Já no início do nosso século, ocorre uma terceira fase, com a chegada da electricidade, do motor de explosão e dos automóveis. Hoje em dia, vivemos a quarta fase, da electrónica, do transporte aéreo, do átomo e do bit. Em particular, o computador e a revolução do silício são considerados por muitos como uma quinta fase, de importância equivalente à da primeira: se o vapor libertou o Homem do trabalho pesado, o computador cria novas potencialidades ao nível da mente, do cálculo, da lógica e do conhecimento, abrindo caminho para um fluxo crescente de inovações.
Como já referimos, mais recentemente, a Inovação deixou de estar centrada em exclusivo na vertente tecnológica, para passar a abranger todas as áreas dentro de uma organização. Inserido nesta óptica moderna, o Livro Verde Sobre a Inovação, elaborado pela Comissão Europeia
, veio trazer em 1995 um paladar Europeu ao estudo do conceito, alertando o Velho Continente para a necessidade de uma aposta redobrada na Inovação enquanto factor crítico de competitividade, sobrevivência e sucesso na transição para o século XXI. No contexto desta obra, a Inovação é considerada sinónimo de

Próximo conceito

"produzir, assimilar e explorar com êxito a novidade nos domínios económico e social".

Ela conduz as organizações em direcção a objectivos ambiciosos, à renovação das suas estruturas e ao nascimento de novas actividades económicas, incluindo os seguintes aspectos:

  • "renovação e alargamento da gama de produtos e serviços";

  • "criação de novos métodos de produção, de aprovisionamento e de distribuição";

  • "introdução de alterações na gestão, na organização do trabalho e nas condições de trabalho, bem como nas qualificações dos trabalhadores".

A organização inovadora apresenta, deste modo, um conjunto de características próprias, estruturadas em duas áreas principais:

  • "Competências Estratégicas: visão a longo prazo; capacidade para identificar ou mesmo antecipar as tendências do mercado; vontade e capacidade de reunir, tratar e integrar a informação tecnológica e económica".

  • "Competências Organizativas: gosto e domínio do risco; cooperação interna, entre os diferentes departamentos funcionais, e externa, com a investigação pública, os serviços de consultadoria, os clientes e os fornecedores; envolvimento do conjunto da empresa no processo de mudança e investimento em recursos humanos".

Procurando sistematizar e organizar as inúmeras abordagens ao tema da Inovação, e modos como esta se concretiza no seio das organizações, Slappendel (1996) apresenta três perspectivas que vale a pena aqui referir, pois proporcionam um figurino propício ao entendimento da própria estrutura deste livro:

  • Individualista - os indivíduos são considerados os grandes motores e protagonistas da Inovação, não estando as respectivas acções condicionadas significativamente por factores externos.

  • Estruturalista - enquanto a perspectiva individualista procura explicar a Inovação com base nos indivíduos, a perspectiva estruturalista assume que a Inovação é determinada por características organizacionais. As organizações têm objectivos a atingir, o mais premente de entre eles o da sobrevivência. Todo o esforço de Inovação decorre de tais objectivos, de modo a garantir o melhor desempenho possível da empresa, internamente e no seu relacionamento com o meio exterior. Portanto, os clientes, os fornecedores e os concorrentes são agentes importantes a ter em conta nos processos de Inovação.

  • Processo interactivo - envolve a descrição e análise de sequências de actividades que ocorrem no desenvolvimento e implementação da Inovação, encarada essencialmente enquanto processo a ser devidamente planeado, acompanhado e estudado como qualquer outro processo crítico.

    Mais do que antagónicas, mutuamente exclusivas ou incompatíveis entre si, acreditamos que só uma visão devidamente integrada e articulada entre estas três perspectivas potencia verdadeiramente a concretização eficaz da Inovação. Neste pressuposto assenta o estabelecimento de ligações entre Inovação e Qualidade, de onde decorre a sequência de capítulos que constitui a presente obra, conforme se referiu na Introdução.

© Sociedade Portuguesa de Inovação, 1999
Edição e Produção Editorial: Principia.    Execução Técnica: Cast, Lda.