1.3
INOVAÇÃO E QUALIDADE

Antes de avançarmos, de forma mais pormenorizada, para uma exposição dos contornos de interacção entre Inovação e Qualidade, "árvore a árvore", importa salientar desde já, de modo geral e numa perspectiva de "floresta", algumas das manchas de sobreposição entre estes dois domínios. Em particular, a presença da Inovação no universo da Qualidade torna-se progressivamente mais visível:

  • Como já tivemos oportunidade de referir, na grande linha de força da melhoria, é cada vez mais evidente e pacífico que os esforços de progresso através de pequenos passos podem e devem ser complementados com saltos quânticos, de progresso assente em grandes passos, aproximando, portanto, da Inovação a perspectiva de melhoria contínua adoptada em Gestão pela Qualidade.

  • Ao mesmo tempo, as técnicas e ferramentas que fazem parte dos arsenais geralmente associados às lutas da Qualidade têm vindo a progredir no sentido de um enriquecimento especialmente relevante no que diz respeito à prática da Inovação. Depois de uma geração de técnicas básicas, e outra de metodologias de planeamento, nos finais dos anos 90 estão a surgir diversas novas metodologias na área da Qualidade, com grande sucesso. São de índole essencialmente criativa e visam estimular a aprendizagem por via dos grandes passos no seio das organizações, devendo talvez ser destacada neste contexto, pela sua natureza e popularidade alcançada, a Teoria de Resolução de Problemas Inventivos (TRIZ) , de que falaremos brevemente no capítulo 4.

  • Outro domínio onde a interligação entre Inovação e Qualidade se afigura evidente é aquele que se prende com a aplicação de metodologias próprias (Desdobramento da Função Qualidade , Engenharia de Conceitos, AMFE  ) de concepção e planeamento da Qualidade no desenvolvimento de novos produtos ou serviços, centrando com isso a Inovação em torno das vozes e necessidades dos clientes.

  • Em Outubro de 1998, foi assinada em Paris a Carta Europeia da Qualidade, na qual a integração e importância da Inovação no contexto de uma Política da Qualidade se encontra bem patente e de forma explícita quando se afirma que "a Qualidade é uma indiscutível medida de eficiência (a não qualidade resulta num gasto estimado em centenas de biliões de Euros por ano). Através da redução de custos, do estímulo à imaginação das pessoas, promovendo a Inovação, renovando a organização e encorajando a iniciativa, a Qualidade torna-se a força motriz da competitividade e, por consequência, do emprego."

  • Nos diferentes seminários, organizações, congressos e publicações no domínio da Qualidade, assiste-se a uma presença regular e importante de estudos e comunicações nas áreas da inovação, criatividade, gestão da investigação, etc.

  • O modelo de excelência desenvolvido pela European Foundation for Quality Management (EFQM) é reconhecidamente um óptimo guia de orientação para a Gestão pela Qualidade Total. Nele se apontam boas práticas disponíveis que facilitam a avaliação de uma organização face às mesmas. É este o modelo que serve de orientação à grande maioria das melhores empresas europeias no domínio da qualidade, e é por ele que se rege a atribuição do Prémio Europeu da Qualidade (em Portugal, do equivalente PEX-Prémio de Excelência). A nova versão do modelo (disponível desde Abril de 1999) contempla na sua estrutura aspectos estreitamente ligados à Inovação, evidenciando a ideia de que esta é uma das áreas que está a ser alvo de um maior reforço, e exprimindo de forma ainda mais clara a importância da Inovação num contexto de Gestão pela Qualidade Total, como veremos mais adiante.

Vivemos numa sociedade onde a aprendizagem organizacional, a gestão do capital intelectual e do conhecimento se configuram, mais do que meros chavões, como verdadeiras peças cruciais no puzzle da competitividade num ambiente de rápida e permanente mudança. Neste contexto, a Inovação e a Qualidade apresentam-se como fulcros nevrálgicos no funcionamento das organizações. Ambos os conceitos se encontram em via de aproximação, sendo sobre este promissor casamento que o presente livro se debruça, convidando o leitor a nele participar.
Trata-se de um casamento que decorre de uma comunhão de princípios e abordagens, mas também de conveniência para ambos os consortes: a Qualidade pode e deve ajudar em muito a Inovação, estimulando-a, fornecendo-lhe ferramentas adequadas para a tornar mais eficaz e orientando-a na direcção adequada, que se prende, em última análise, com a capacidade para satisfazer e encantar clientes; por sua vez, a Inovação assume-se como processo vital no sucesso e melhoria das organizações, fazendo por isso cada vez menos sentido encarar a Qualidade e a Excelência desprovidas de uma vertente importante de Inovação.

 

© Sociedade Portuguesa de Inovação, 1999
Edição e Produção Editorial: Princípia.    Execução Técnica: Cast, Lda.