Esta tentativa de definição de globalização põe ênfase na ultrapassagem das nações enquanto agentes prioritários do sistema económico actual, apontando implicitamente para outros, tais como empresas e grupos económicos e financeiros, esse papel de liderança.
E, em nosso entender, a globalização é sobretudo o resultado de acções estratégicas, mesmo que possibilitadas por desenvolvimentos tecnológicos e políticos. Devemos, pois, procurar descrever o seu aparecimento e a sua consolidação através dos diferentes graus de evolução estratégica das empresas, a partir da natureza dos movimentos de internacionalização.
Assim, encontramos três níveis de complexidade crescente em direcção à concretização da globalização, coincidentes, aliás, com a evolução temporal e geográfica das estratégias empresariais:
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1º - dispersão geográfica
das empresas,
correspondente à lógica de actuação das multinacionais, que se localizam em diferentes mercados nacionais, eventualmente com respeito por algumas peculiaridades desses mercados, que de algum modo continuaram disjuntos. É uma situação ainda de "internacionalização", constituindo uma fase necessária para a expressão da globalização, mas que não contém os elementos relevantes desta.
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2º - globalização na óptica do produto,
em conjunto com o aprofundamento da dispersão geográfica, de que é exemplo paradigmático a cadeia McDonald's. É uma estratégia tendente à ocupação potencial de todo o globo com produtos idênticos, assumindo (ou impondo?) um gosto universalizado. É um passo em frente e decisivo no "preenchimento" do conceito de globalização, na medida em que se pretende criar e fazer consumir o "produto mundial", ultrapassando e, até, eliminando diferenciações a que as características
locais fariam, eventualmente, apelo.
Neste caso, a globalização é concretizada, no essencial, do lado da procura, uma vez que não está ainda em causa nem o completo domínio dos circuitos produtivos, nem a sua integração total.
Greider descreve lapidarmente esta estratégia da McDonald's:
"De Kuala Lumpur a Moscovo, a empresa age como um batedor avançado da revolução global, de algum modo capaz de detectar a emergência de rendimentos disponíveis antes que outras empresas o façam."
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"3º -
globalização da produção que se traduz por uma produção de bens e serviços distribuída potencialmente por todo o mundo, não concentrando em cada um dos diversos mercados "segmentados" todas as operações conducentes ao produto final, mas dispersando-as em consonância com critérios de acessibilidade de recursos,
know-how, localização de clientes, facilidades financeiras e fiscais, coordenando-as - em ordem à obtenção do melhor custo para os padrões de qualidade definidos - em pontos específicos e dinamicamente mutáveis de "aglutinação" ou "montagem" do produto final a oferecer.
Este é um processo final que acaba por unificar, de algum modo, o mercado mundial ou, pelo menos, por mostrar que uma empresa não está mais constrangida na sua produção pela existência de mercados "segmentados", mesmo em relação aos factores de produção. Trata-se, na expressão de Akio Morita, ex-Presidente da Sony, da verdadeira
"localização mundial".
Note-se que a concretização absoluta deste nível de globalização exigiria a extinção de barreiras institucionais à circulação de bens, serviços, capitais e pessoas (as
"quatro liberdades" do Tratado da União Europeia) e a não distinção entre nações e "nacionais", motivando a alteração de
designação de empresas multinacionais (em várias nações e, habitualmente, com uma nação de origem que as adjectivam) para
empresas transnacionais (para além das nações), sempre que se estejam a referir empresas com as características explicitadas nas 2ª e 3ª fases da globalização.
Por outro lado, esta globalização pode coexistir quer com o mercado unificado do lado da procura, quer com adaptação a diferentes segmentos de clientes.
Em resumo, |