É natural que este manual se dirija essencialmente às empresas portuguesas e que, por isso, os
movimentos de internacionalização sejam "vistos com os olhos destas empresas", sem esquecer que estão imersas num contexto
sócio-político que não é neutro face a este problema.
De facto, a internacionalização das empresas portuguesas, com a subjacente necessidade de criação de
Grupos Portugueses com crescente implantação no estrangeiro, assumiu contornos de paradigma para a sociedade portuguesa, deixando na sombra, porventura, facetas relevantes que devemos examinar atentamente. É que, num mundo em grande mutação, desencadeada pela queda do Muro de Berlim e pela difusão crescente das Tecnologias e dos Sistemas de
Informação , é fundamental verificar se alguns conceitos aceites como norma não estarão a ser sujeitos a uma usura provocada por esta aceleração da mudança e, em consequência, se todos continuam a atribuir o mesmo conteúdo a termos que até agora pouca controvérsia levantavam.
A internacionalização das empresas é um desses termos, a nosso ver, por duas ordens de razões que se imbricam profundamente:
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em primeiro lugar, por a internacionalização aparecer ainda frequentemente como uma alternativa estratégica (o que significa que se pode ou não optar por ela);
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em segundo lugar, porque pressupõe uma separação de espaços económicos nacionais e, em simultâneo, uma radicação estrutural e estratégica num desses espaços nacionais.
O elevado irrealismo da primeira alternativa, como mostrámos no Capítulo 1, e o esbatimento continuado das fronteiras económicas nacionais impõem um reequacionamento dos
movimentos de internacionalização e sobretudo uma nova terminologia. No entanto, esse reequacionamento não invalida, antes suscita, o conhecimento dos movimentos "tradicionais" de internacionalização que são o objecto essencial deste capítulo.
Por outro lado, atendendo à dimensão relativamente pequena da generalidade das empresas portuguesas, há que ter consciência de que a natureza e a profundidade dos movimentos que se lhes abrem são diferentes dos concretizados pelas grandes empresas que desde há muito operam no mercado internacional.
Em boa verdade, já desde o início da década de noventa essas empresas
situavam-se fundamentalmente na lógica da globalização, com formas de expansão como o
Investimento Directo Estrangeiro, a produção transnacional e mesmo o desenho de alianças estratégicas, sendo que estas estratégias eram muito mais dirigidas ao aumento da sua eficiência interna e externa do que à mera necessidade de sobrevivência, como poderá ser o caso de muitas empresas portuguesas.
Isto não significa que esses tipos de movimentos sejam as metas futuras das empresas nacionais, após aprofundamento do seu processo de internacionalização que se discute de seguida.
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