2.1
  TIPOS DE INOVAÇÃO 

No capítulo anterior analisou-se o conceito de inovação. Do conjunto de definições apresentadas ficou evidente que a inovação não é percepcionada de igual modo por todas as pessoas. Tal não significa que, não existindo um entendimento comum, não seja possível tipificar tudo o que encaixa no conceito mais abrangente de inovação apresentado pela Comissão Europeia no "Livro Verde Sobre Inovação", de um modo claramente perceptível para todos. 
O interesse de procurar agrupar as inovações por diferentes tipos não está em desenvolver um exercício meramente académico, mas antes em facilitar a identificação do tipo de inovação para o qual uma empresa estará melhor preparada atendendo a factores, internos e externos, que condicionam essa opção.
Adriano Freire (1996) apresenta uma organização possível para classificação da inovação, na qual considera existirem nove tipos distintos:

  • Inovação de conceito

  • Inovação de processo

  • Criação de marca

  • Aperfeiçoamento gradual

  • Reorganização tecnológica

  • Reformulação

  • Inovação de serviço

  • Inovação de design

  • Inovação de embalagem

É necessário ter em consideração, por um lado, que a classificação de uma dada inovação num destes tipos resulta de uma análise qualitativa - inevitavelmente associada a um determinado nível de subjectividade -, por outro, que muitas vezes estão presentes numa inovação elementos inovadores de diferentes tipos. A classificação de uma dada inovação não deve ser confundida com a empresa que a desenvolve, dado que para qualquer empresa encontraremos sempre inovações de diversos tipos.

2.1.1  INOVAÇÃO DE CONCEITO 

As inovações que se enquadram neste grupo são aquelas reconhecidas como tal pela generalidade das pessoas, encaixando-se por isso nos conceitos mais restritos de inovação discutidos no Capítulo 1. Estas inovações, podendo ter na sua génese tecnologias já disponíveis e utilizadas noutros domínios, são aplicadas em ideias conceptualmente novas, distintas de tudo o que existe no mercado. Este conceito de inovação aplica-se quer a produtos quer a serviços.
Alguns exemplos de inovação de conceito são:

  • O  telefone celular  - Criado em 1979 pela  Ericsson , o telefone celular -  telemóvel  - introduziu no mundo das telecomunicações um conceito inovador: o de um aparelho que, utilizado da mesma forma que um telefone convencional, não tivesse a limitação de uma ligação física a uma rede. Para tal, o telefone celular, tal como a rádio e a televisão, utiliza as ondas hertzianas como meio de propagação, o que representou uma ruptura completa com o conceito base do telefone convencional.

  • O  código de barras  - Criado em 1949, é o exemplo de uma inovação que surge demasiado avançada no tempo. Só na década de 70 se reuniram as condições técnicas necessárias para a aplicação bem sucedida da ideia original, com o aparecimento dos primeiros leitores ópticos, com a normalização introduzida pela Codificação Universal de produtos e com a criação do código alfa-numérico pela Intermec, fazendo corresponder letras e números às barras verticais. Com múltiplas aplicações, a utilização do código de barras nos hipermercados, para identificar os produtos e os preços nas caixas, é provavelmente a mais familiar. Nesta aplicação em concreto, tornando-se desnecessário digitar o preço, acelera-se com isso o processo de pagamento.

  • GPS - Global Positioning System  - O GPS é um sistema revolucionário que começou a ser desenvolvido em 1973 pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos para localização de alvos de guerra. A partir da década de 90 passou a ter múltiplas aplicações na área civil. Este sistema constituiu uma inovação de conceito pois rompeu com os anteriores: é suportado por um conjunto de satélites não geo-estacionários que permitem ao utilizador dispor de três parâmetros - latitude, longitude e altitude - com um erro máximo de 20 metros. Pela sua precisão, estes sistemas começaram por ser utilizados ao nível da navegação aérea e marítima, estando hoje generalizados a um sem número de outras aplicações.

  • O Air Bag - Apresentado em 1981 pela Mercedes, a ideia original remonta à década de 50. O air bag consiste essencialmente numa almofada que se insufla em caso de impacto em que haja uma forte desaceleração. Este enchimento é efectuado através de uma pequena carga explosiva, detonada quando os sensores detectam um choque, e processa-se em coordenação com o alargar e o prender do cinto de segurança, igualmente comandado por sensores. O air bag constituiu uma inovação de conceito em termos de segurança passiva na indústria automóvel


A empresa
A  Brisa , fundada em 1972, é hoje uma das maiores empresas portuguesas e detém até 2030 o monopólio sobre a maioria das auto-estradas. Ao longo da sua existência, a Brisa tem modernizado o serviço nas auto-estradas. Entre as actividades desenvolvidas por esta empresa, ao serviço dos utentes das auto-estradas nacionais, incluem-se:

  • a gestão das áreas de serviço e repouso;

  • estudo, desenvolvimento e implementação de sistemas de gestão automatizada de tráfego;

  • a prestação de serviço de assistência ao cliente;

  • a prestação de serviço de informação de trânsito ao cliente;

  • a prestação de serviço de informação cultural;

  • os serviços de conservação e manutenção de auto-estradas;

  • análise de causas de acidentes, estudo e implementação de soluções para os minimizar.

A Via Verde surgiu durante o processo de melhoria da gestão das auto-estradas que a Brisa explora.

A inovação
A Via Verde é um sistema de pagamento, único em todo o mundo.
No final dos anos 80, aquando da construção da A5 (Auto-estrada Cascais-Lisboa), o processo de expropriação e de desmantelamento de casas foi tão moroso que, quando a obra terminou em 1991, o fluxo de tráfego era muito superior ao esperado. Para evitar que as filas de trânsito ultrapassassem a própria praça de portagem (que não podia ser mais alargada), e para tornar esta auto-estrada economicamente viável, era necessário um sistema de pagamento automático em que não houvesse necessidade de parar para pagar. 
Para procurar dar resposta a esta necessidade foi constituída uma equipa mista, composta por elementos do Núcleo de Investigação e Desenvolvimento Electrónico e por quase todos os departamentos da Direcção de Exploração. Como o tempo era escasso, não havia possibilidades de desenvolver o sistema 100% internamente, e assim procurou-se no estrangeiro um que pudesse ser adaptado para Portugal. Foi encontrado em Oslo, onde uma empresa norueguesa (que se tornou parceira da Brisa, a  Micro Design ) controlava a quantidade de veículos que entravam nesta cidade. O identificador desenvolvido inicialmente foi lançado sem uma forte campanha de comunicação e só era possível adquiri-lo nas portagens da Brisa. Em 1995, após o desenvolvimento do segundo identificador, foi possível a expansão da Via Verde a toda a rede de auto-estradas, e não só em trajectos com distâncias fixas com a Ponte 25 de Abril, a A5 e a auto-estrada de Loures. Este sistema permite que um veículo seja identificado, ao passar nas barreiras de entrada e saída, possibilitando que o computador central da Brisa processe a informação e efectue a transacção correspondente. Nesta altura, a Brisa desenvolveu uma forte campanha de marketing na rádio, na televisão e na imprensa e facultou a aquisição do novo identificador pelo correio, nos balcões da Nova Rede e nas portagens.
Para o sucesso da Via Verde contribui igualmente um outro conjunto de factores:

  • a reduzida dimensão do nosso país, que facilitou a montagem rápida da Via Verde em toda a rede de auto-estradas;

  • a condição de monopólio desfrutada pela Brisa, que tornou possível a instalação de um sistema único para toda a rede de auto-estradas;

  • a adesão imediata da SIBS (Sociedade Interbancária de Serviços), que permite a emissão de ordens de débito ao sistema Multibanco;

  • a adaptação da legislação em vigor pelo governo, autorizando que em caso de anomalia na identificação de um veículo este seja imediatamente fotografado.

A Via Verde é uma inovação de conceito: utilizou tecnologias já existentes, alterou-as em certa medida, e aplicou-as a uma ideia conceptualmente nova. A exportação da tecnologia da Via Verde para outros países, como o Japão, Marrocos, a Grécia ou o Brasil, encontra-se em fase de negociação.

Fontes: Coutinho, A. et al., 1998; Freire, A, 1997c; Vasco, R., 1997; www.brisa.pt

2.1.2  INOVAÇÃO DE PROCESSO 

Este tipo de inovação existe sempre que a um produto ou serviço já existente é aplicado um novo processo, o qual, sem resultar numa alteração desse produto ou serviço, permite obter vantagens competitivas que normalmente estão associadas a uma redução dos custos de produção ou do serviço. Em geral, este tipo de inovação consiste na utilização de tecnologias inovadoras no processo, que podem ser completamente novas ou resultar de um processo de transferência e adaptação tecnológica a partir de outras áreas.
Alguns exemplos de inovações de processo são:

  • As  Pringles  - Não sendo verdadeiramente batatas fritas, este produto, desenvolvido pela  Procter & Gamble , é reconhecido pelo consumidor como tal. A sua tecnologia de produção é completamente distinta da utilizada no fabrico das batatas fritas ditas clássicas. Neste produto é possível reconhecer outros tipos de inovações: de marca e de embalagem.

  • O Banco 7 - Sendo um banco pertencente, na altura da sua criação, ao universo do Banco Comercial Português, o Banco 7 constitui uma inovação no processo de comunicação com o cliente. Através de novos canais - o telefone, o fax, o correio, o correio electrónico -, o cliente pode efectuar um conjunto de operações bancárias que tradicionalmente só efectuaria junto de uma agência.

  • O franchising - Através deste método, uma empresa pode alargar a sua rede de distribuição, fazendo chegar os seus produtos ou serviços junto de um maior número de potenciais consumidores, e com investimentos bastante mais limitados. Neste sentido, o franshising foi uma inovação de processo quando surgiu.

  • O Just in time - A introdução desta metodologia que visa a minimização dos stocks em armazém, representou um processo inovador de gestão e controlo de mercadorias.

  • O Shopping Direct - Gerido pelo grupo BCP/Atlântico, é basicamente um centro comercial virtual com dezenas de lojas, algumas das quais funcionam como "lojas -âncora". Entre estas últimas encontram-se o Pingo Doce, o Banco 7, a Singer, a Seat, a Divani & Divani, a K Way, a Tuttochico e a MegaR. O Shopping Direct, oferecendo o mesmo tipo de produtos que essas lojas oferecem num centro comercial convencional, utiliza contudo novas tecnologias para explorar um novo canal de comercialização.

  • Expresso Atlântico  - O Atlântico possui um serviço de tele-conferência em cada agência, que coloca à disposição do cliente um técnico especializado on-line para lhe fornecer todas as informações desejadas em tempo real. A um serviço já existente foi aplicado um processo novo que permite obter vantagens competitivas, designadamente a diminuição de custos decorrentes da redução do número de funcionários por agência e o acesso a um técnico especializado na área relativamente à qual o cliente solicitou esclarecimentos adicionais.

O enquadramento
Em 1983, doze instituições bancárias em Portugal associaram-se na  SIBS - Sociedade Interbancária de Serviços . Foi a SIBS a entidade responsável pelo desenvolvimento da rede nacional de  ATM - Automatic Teller Machines  que viria a ser designada por Multibanco. O sistema Multibanco entrou em funcionamento em 1985 com rede nacional de caixas ATM e posteriormente foi alargada com a inclusão dos terminais de pagamento automático. Actualmente, a SIBS reúne quase três dezenas de instituições bancárias e absorveu no seu sistema a  Chave 24  do  Montepio Geral  que havia sido a entidade pioneira em Portugal a desenvolver autonomamente um sistema de caixa automática.

A inovação
O acesso ao sistema é efectuado de forma personalizada estando este protegido por cartões de faixas magnéticas e códigos de identificação pessoal (PIN - Personal Identification Number). A rede de caixas automáticas funciona de uma forma on-line, o que permite assegurar um elevado grau de controlo. As virtualidades do sistema têm vindo a acentuar-se com o alargamento dos serviços prestados. Ao permitir efectuar a generalidade das operações bancárias mais comuns em qualquer caixa automática, independentemente do local onde esta se encontre, o cartão Multibanco evita o incómodo da deslocação a uma agência do banco. Outras operações possíveis de efectuar numa caixa automática como o pagamento de serviços e a compra de determinados bilhetes (e.g. espectáculos, comboio) visaram facilitar ainda mais o quotidiano dos utilizadores. Da mesma forma, a possibilidade de pagamento automática nos pontos de venda é outras das principais funcionalidades do sistema. Existem situações pontuais, como nos postos telefónicos públicos e nas cabinas de portagens de auto-estrada, em que não é necessário introduzir o PIN. O sistema de cobrança automática de portagens da Brisa - Via Verde  - dispensa a introdução do PIN e a apresentação do cartão. Finalmente, os acordos celebrados com redes de outros países e organizações (Visa,  Mastercard ,  Eurocard ,  American Express ) tornaram possível levantar dinheiro praticamente em qualquer parte do mundo onde as redes de telecomunicação funcionem de uma forma minimamente eficiente
A flexibilidade do sistema permite que algumas operações sejam oferecidas exclusivamente aos clientes de um determinado banco ou a alguns clientes desse banco.
Em Junho de 1998, existiam já em Portugal cerca 5700 caixas automáticas e o número de cartões válidos em circulação era de quase 9 milhões. No final de 1997, o número de  terminais de pagamento automático (TPA)  ascendia a mais de 60 mil, tendo-se efectuado mais de 800 milhões de operações, das quais cerca de 60% corresponderam a levantamentos.

Fontes: Coutinho, A., et al., 1998; www.sibs.pt 

2.1.3  CRIAÇÃO DE MARCA 

A criação de uma marca normalmente não é reconhecida como uma inovação mas essa criação corresponde a um processo de inovação em tudo semelhante ao processo de inovação associado ao desenvolvimento de um novo produto Este tipo de inovação ocorre quando se aplica uma nova marca a produtos já existentes .
Alguns exemplos de inovação ao nível de criação de marca são:

  • As  Pringles  - É um exemplo limite da associação de um determinado produto a uma marca. Quando alguém se refere a Pringles toda a gente sabe de que produto se trata. Se em vez do nome dissessem snack de batata desidratada, quantas pessoas o associavam ao produto?

  • Jeep  - É outro exemplo clássico da associação de um produto a uma marca. Sendo Jeep um fabricante de veículos de todo-o-terreno, ainda hoje é frequente dizer-se jeep (jipe, se adaptado para português) quando se pretende referir este tipo de viaturas.

  • Decénio - As lojas Decénio são o exemplo da aposta numa marca por parte de uma empresa portuguesa do sector do vestuário, a  Ricon . Esta empresa, como outras empresas portuguesas do sector, produzem artigos com uma qualidade reconhecida internacionalmente, fabricando para algumas das mais conceituadas marcas internacionais. Ao criar uma marca própria e uma rede de distribuição diferenciada, o objectivo da empresa é acrescentar valor ao seu produto pelo aumento da margem comercial.

  • As  Chiclets  - Esta é a designação que a maioria dos consumidores utiliza quando se pretende referir a pastilha elástica. Chiclets é o nome de uma pastilha elástica criada pela  Adam's .

  • O  Kispo  - Embora a popularidade dos produtos marca Kispo e a sua presença no mercado português seja muito inferior à do passado (década de 70), o seu nome ficou como referência para designar uma peça de vestuário que oferece protecção simultaneamente contra o frio e a chuva.

  • Baileys  - Pedir um licor creme irlandês é algo que dificilmente se pode imaginar alguém a fazer. Se tal acontecesse, também não seria supreendente se a resposta fosse "Não temos". Pela notoriedade que atingiu em Portugal, Baileys é sinónimo de licor creme irlandês para o consumidor.

  • Os  Donuts  - Em todo o mundo donuts é a palavra utilizada quando alguém se refere a esses bolos em forma de argola. Ao contrário do anterior, este é um exemplo em que não se encontra uma outra designação por mais rebuscada que seja.

  • Visa  - Nalguns mercados, a palavra "visa" é correntemente utilizada no sentido lato para designar cartão de crédito. Esta utilização generalista é feita normalmente por utilizadores deste cartão bem como por utilizadores de outros cartões de crédito, excepto no acto de compra, altura em especificam exactamente qual o que possuem para saber se este é aceite no estabelecimento.


A empresa
A Benetton, criada em Itália em 1965, é ainda hoje, como aquando da sua fundação, uma empresa de natureza familiar, gerida por quatro irmãos. Em menos de três décadas a Benetton conseguiu, com a sua abordagem inovadora do negócio, revolucionar a indústria têxtil italiana.
Actualmente, a Benetton está presente em mais de 120 países onde possui mais de 7000 lojas. As lojas Benetton são completamente independentes da empresa, não existindo qualquer contrato de franchising entre o fabricante e o retalhista, embora estes assegurem a exclusividade dos produtos Benetton nas suas lojas. Esta empresa assenta numa rede de mais de 800 agentes, presentes em 80 escritórios de representação que asseguram a ligação entre a Benetton e as lojas. Embora externos à empresa, os agentes asseguram tarefas vitais ao sistema, como a procura e selecção de locais e de investidores, o treino dos novos proprietários, a supervisão e apoio na gestão das lojas e na definição dos modelos a comercializar no ano seguinte, na área geográfica da sua responsabilidade.

A inovação
O facto de o processo de fabrico e de comercialização de vestuário da Benetton estar assente na subcontratação da produção a pequenas empresas liberta a empresa para outras actividades, como a criação de novos modelos e a gestão da sua imagem de marca. A actividade de design integra-se no departamento de investigação e desenvolvimento, o qual conta com mais de 200 colaboradores. Por forma a responder às mudanças das exigências dos mercados, a Benetton desenvolve um esforço permanente de adaptação dos seus produtos em termos do design, das cores e dos tecidos utilizados. Como resultado, anualmente são lançados mais de 4000 novos modelos.
Esta grande diversidade de modelos exige um elevado grau de flexibilidade na produção. Face a esta exigência, a Benetton desenvolveu um sistema original de tingimento para as peças já confeccionadas, o que lhe permite reduzir custos de produção e de armazenamento e tempos de entrega, satisfazendo as lojas com as cores preferidas pelos clientes. Esta tarefa conjuntamente com a aquisição de matérias-primas, o planeamento da produção, o desenvolvimento do produto e o corte do molde são as que a Benetton desenvolve ela própria, pois são consideradas as actividades críticas no negócio. 
Através da publicidade muitas vezes polémica, a Benetton conseguiu impor-se com uma imagem de "marca das cores", tendo surgido a denominação United Colors of Benetton. A força das imagens criadas e a sua ligação à Benetton é tão forte que esta não precisa de mostrar os seus produtos, optando por realçar os valores-chave que lhe estão associados: a cor, a irreverência e a tolerância.
Os produtos Benetton têm hoje uma notoriedade e uma imagem que os distingue da concorrência. O facto de ter atingido este estatuto e a dificuldade em manter um ritmo de crescimento semelhante ao do passado tem levado a empresa a expandir as suas actividades para outras áreas de negócio, ligadas à moda. O licenciamento da marca é um elemento-chave nesta estratégia (e.g. acordos com a  Timex  e  Junghens Uhren  para a produção e distribuição mundial de relógios e acessórios sob a marca United Colors of Benetton).

Fontes: Freire, A., 1997c; www.benetton.com

2.1.4  APERFEIÇOAMENTO GRADUAL 

As inovações que se enquadram no perfil correspondente a aperfeiçoamento gradual são todas aquelas em que o novo produto, processo, procedimento ou serviço é o resultado da alteração de um já existente, na busca de uma maior satisfação do cliente.
Alguns exemplos de inovação correspondente a aperfeiçoamento gradual são:

  • As normas  ISO 9000  - Ao longo de todo o século XX tem-se assistido ao aumento da importância da qualidade nas organizações. Hoje, a qualidade é percepcionada e entendida como algo que se estende a todos os níveis de uma organização. Nesta lógica, as normas ISO são uma ferramenta que as empresas têm ao seu dispor para estruturar e aperfeiçoar um conjunto de actividades que normalmente já realizam, mas que nem sempre são conduzidas da forma mais adequada.

  • O  automóvel  - Este é um exemplo que podia ser dado para ilustrar inovações de diversos tipos. A criação do automóvel é, sem dúvida alguma, uma inovação de conceito. No entanto, pensando num qualquer modelo, por exemplo o  Volkwagen Golf , compreendemos de imediato que as várias gerações deste automóvel, e dentro delas as várias versões, sofreram um conjunto de melhorias graduais, de tal modo que é enorme a diferença entre o actual Golf e o modelo da primeira geração. .Esta inovação, da qual o Golf é o objecto considerado, pode ser classificada como uma aperfeiçoamento gradual. No entanto, resulta de um somatório de múltiplas inovações de diferentes tipologias, das quais o air bag, o sistema ABS e a direcção assistida são alguns exemplos.

  • Advanced Photo System  - Este sistema foi desenvolvido pela  Kodak  em parceria com a  Canon , a  Minolta , a  Nikon  e posteriormente a  Fuji , por forma a minimizar os riscos competitivos associados ao projecto. A cooperação incidiu apenas no desenvolvimento das tecnologias necessárias para estabelecer o novo standard, continuando as empresas a concorrer comercialmente entre si. Com este sistema, a satisfação do cliente aumenta pois passa a dispor da possibilidade de optar entre três formatos de fotografia: grupo, panorâmico ou clássico.

  • O Walkman - Este aparelho resulta da adaptação e integração de dois produtos que a Sony possui: o Pressman, um aparelho apenas com capacidade de gravação em mono, e os auscultadores portáteis. Podendo esta inovação ser considerada um aperfeiçoamento gradual, dado que parte de outros produtos existentes, incorpora igualmente elementos inovadores no conceito, pois introduz uma nova ideia - ouvir música em movimento.

  • A escova de dentes - Este exemplo, por contraponto aos dois anteriores, serve para ilustrar que podem existir aperfeiçoamentos graduais com valores de investimento muito inferiores. O desenvolvimento de novas escovas de dentes, mais ergonómicas, constitui um aperfeiçoamento gradual deste produto. 


A empresa
Desde o seu início, em Boston em 1901, como Gillette Safety Razor Company, que a  Gillette  foi crescendo, tornando-se líder numa larga gama de produtos de grande qualidade. Actualmente é líder mundial em 11 das maiores categorias de produtos, incluindo lâminas e aparelhos de barbear, acessórios para a barba, pilhas alcalinas, utensílios de escrita, escovas de dentes e produtos de higiene oral.
A Gillette apresentou em 1997 vendas superiores a 10 biliões de dólares, produzindo em 63 fábricas, em 26 países, e empregando 44 000 pessoas. A Gillette possui ainda 13 centros de investigação, nos Estados Unidos e na Europa, o que lhe tem permitido introduzir anualmente mais de 20 novos produtos, nos últimos anos. Em 1997, 49% das vendas resultaram de produtos introduzidos nos cinco anos anteriores. Diariamente, mais de 1,2 biliões de pessoas no mundo usam um ou mais produtos Gillette. 

A inovação
No início dos anos 70, quando a  Bic  lançou o primeiro aparelho de barbear descartável do mundo, os consumidores reagiram bastante melhor do que a Gillette tinha antecipado. Confrontados com a rápida expansão da Bic na Europa, a Gillette foi forçada a entrar nesse segmento. Neste contexto, a Gillette decidiu introduzir a sua própria linha de aparelhos descartáveis nos Estados Unidos, onde a Bic ainda não estava presente. No entanto, esta estratégia apresentava igualmente riscos para a Gillette, na medida em que penalizava as vendas dos seus produtos tradicionais, onde obtinha maiores rentabilidades.
Perante esta situação, apoiada numa nova tecnologia que já estava a ser desenvolvida na empresa há vários anos, a tecnologia Sensor, surgiu a ideia de montar num novo produto duas lâminas muito finas sobre molas, para proporcionar flexibilidade ao conjunto. O resultado final foi um novo aparelho de barbear, a Gillette Sensor que, com uma só passagem, permitia um barbear mais perfeito. A tecnologia das lâminas flexíveis foi registada através de 22 patentes, tendo sido necessários 13 anos e gastos 310 milhões de dólares no processo de inovação. Com este produto, a Gillette pretendia recuperar e reforçar a imagem de grande qualidade dos seus produtos e aumentar as vendas no segmento dos sistemas de barbear tradicionais, onde a rentabilidade era maior, desvalorizando os descartáveis e atacando os produtos da concorrência.
O lançamento da Gillette Sensor foi um sucesso imediato, tendo as vendas de 150 milhões de dólares no primeiro ano ultrapassado em 30% as previsões mais optimistas. A Sensor atingiu o primeiro lugar no ranking de vendas nos 15 mercados em que foi lançada e conseguiu, até ao final de 1991, resultados semelhantes em mais 59 países, com vendas de cerca de 300 milhões de dólares. Estes resultados foram conseguidos à custa dos descartáveis - que viram a sua quota de mercado diminuir de 49% para 41% entre 1989 e 1993 - e dos produtos da concorrência (36% do volume total de vendas da Gillette Sensor).
Posteriormente, em 1992, foi lançada a Gillette Sensor for Women nos Estados Unidos que excedeu todas as expectativas: nos primeiros seis meses, as vendas, incluindo recargas, atingiram 7,6 milhões de unidades no valor de 40 milhões de dólares. Em 1994, a Gillette lançou a Sensor Excel. A principal inovação deste novo sistema de barbear consiste na incorporação de um conjunto de microtensores que permitem esticar a pele e obrigam os pêlos da barba a erguerem-se, o que proporciona um melhor barbear. Nos primeiros seis meses de vendas, a Sensor Excel superou a sua antecessora, a Gillette Sensor, e atingiu uma quota de mercado de 10,9% no segmento dos sistemas de barbear tradicionais, aumentada para 14,5% em 1995. Em Setembro de 1998 surge a  Mach3 . É o primeiro sistema de três lâminas, especialmente posicionadas para se ajustarem ao rosto, apurando o barbear numa única passagem, dotadas de gume exclusivo e de uma avançada faixa lubrificante. Este sistema surgiu depois de alguns anos de investigação, tendo a Gillette investido 750 milhões de dólares no seu desenvolvimento. 
A criação da Gillette Sensor pode pois ser encarada, quanto ao tipo de inovação, como um aperfeiçoamento gradual, na medida em que foram melhoradas características e introduzidas outras novas num produto já existente, o aparelho de barbear. As alterações de formato, por forma a torná-lo mais ergonómico, podem ser classificadas como inovações de design .

Fontes: Freire, A., 1997b; McKibben, G., 1998; www.gillette.com

2.1.5  REORGANIZAÇÃO TECNOLÓGICA 

Com a reorganização tecnológica, a empresa pode não pretender introduzir qualquer modificação na forma como o cliente percepciona o produto ou o serviço, mas sim maximizar a rentabilização dos meios que tem ao seu dispor, maximizando a eficiência da sua produção, ou, em alternativa, alterar algumas componentes do produto ou serviço. Algumas das ferramentas que as empresas têm hoje ao seu dispor para efectuar reorganizações tecnológicas, quando desenvolvidas e aplicadas pela primeira vez constituiram inovações de conceito ou de processo. A reengenharia, a gestão da qualidade total e o just in time são alguns desses casos.
Alguns exemplos de inovações que correspondem a reorganizações tecnológicas são:

  • O serviço de despertar da  Portugal Telecom  - Passagem de um atendimento pessoal pela operadora para um serviço automático em que o cliente, sem qualquer envolvimento de terceiros, efectua a marcação do seu pedido.

  • Os iogurtes com pedaços de fruta - O desenvolvimento de iogurtes com pedaços de fruta ou, mais recentemente, com cereais corresponde a uma situação em que, existindo um produto de base, são alterados alguns dos seus componentes obtendo-se um outro que o cliente percepciona como diferente do anterior. Esta situação é distinta do aperfeiçoamento gradual porque aí se procura valorizar os atributos do produto: seria por exemplo o caso nos iogurtes com pedaços de fruta se fosse introduzida uma alteração no processo por forma a assegurar uma maior e mais uniforme integridade dos pedaços de fruta.

  • A pasta de dentes com doseador - Este é o exemplo de um produto cuja classificação da inovação depende da forma como esta é interpretada. Sob o ponto de vista do consumidor, este produto é percepcionado de uma forma distinta, pois pode reconhecer no doseador uma mais-valia, na medida em que passa a saber qual a quantidade adequada que deve utilizar. Nesta perspectiva, trata-se de um aperfeiçoamento gradual. Na óptica da empresa, a incorporação de um dosedor pode constituir uma estratégia para vender mais produto, se a quantidade de dentífrico por dose for superior à quantidade média utilizada pelos consumidores. O alargamento do orifício de saída dos tubos de pasta de dentes foi uma outra alteração introduzida pela generalidade das empresas com igual objectivo. Para a empresa, a inovação enquadra-se em reorganização tecnológica: alterando algumas componentes do produto, maximizam a rentabilização dos meios. 


A empresa
A TMN - Telecomunicações Móveis Nacionais, S.A. é o operador de comunicações móveis do Grupo  Portugal Telecom . Foi constituída em Março de 1991, assegurando a continuação da exploração do serviço telemóvel, lançado em 1989 pelos então existentes operadores públicos de telecomunicações. A TMN é um dos três operadores de comunicações móveis existentes em Portugal. O serviço digital foi lançado em Outubro de 1992, fazendo da TMN a primeira a operar no mercado português no sistema digital e igualmente uma das primeiras empresas europeias a prestar este serviço.

A inovação e o seu enquadramento
Tem-se assistido em Portugal a um crescimento acelerado no sector das telecomunicações móveis, o que, associado ao aumento da competição entre os vários operadores, obriga as empresas do sector a um esforço permanente de inovação. Não procurando ser exaustivo, entre os serviços inovadores que foram sendo introduzidos no mercado encontram-se o roaming, o voice mail, a transferência e a identificação de chamadas, as chamadas em conferência, a transmissão de fax via terminal móvel (Faxmóvel) e a transferência de dados (Datamóvel). A criação de planos personalizados de preços, em que a cada cliente é dada a possibilidade de escolha do tarifário que considera mais adequado às suas necessidades, é outra inovação. 
Com a massificação do uso do telemóvel que se começava a perspectivar, nomeadamente ao nível dos particulares, incluindo os de rendimentos médios, a TMN procura desenvolver uma proposta que pudesse ser bem aceite por estes potenciais clientes. Assim surge a ideia, inovadora a nível europeu, de desenvolver um cartão pré-pago, recarregável nas caixas Multibanco, isento do pagamento de assinatura mensal. Em menos de um ano a TMN desenvolve o sistema em colaboração com a  Orga  ( empresa da área de sistemas de informação), apresentando em Setembro de 1995 o Mimo, um telemóvel "pronto a falar", sem assinatura mensal, com cartão pré-activado com 10000$00 de chamadas e recarregável através das máquinas Multibanco ou em qualquer loja TMN, a um preço de lançamento de 74900$00. O sucesso do Mimo residiu sobretudo na grande facilidade de utilização e no preço relativamente acessível. Incluía ainda um serviço de consulta pessoal, que permitia ao cliente ter informação actualizada sobre o saldo disponível no seu cartão e controlar o custo das chamadas. No final de 1996, graças ao Mimo, a TMN havia conseguido reequilibrar a partilha do mercado. Nesta altura, o Mimo possuia uma quota de 15% do total dos telefones móveis em Portugal.
Para fazer face ao êxito do Mimo, a  Telecel  lançou numa primeira fase o Promo, que incluía um aparelho e um cartão pré-carregado com chamadas válidas para um dado período, no fim do qual o cliente se tornava assinante da Telecel e passava a pagar um valor mensal mínimo de 5000$00. Este produto encontrava-se desajustado do mercado e foi substituído no final de 1996, aproximadamente um ano após o lançamento do Mimo, pela Vitamina T, produto com características equivalentes às do Mimo. Em 1998, o terceiro operador, a  Optimus , ao entrar no mercado lança igualmente um produto semelhante, o Boomerang. Desde o seu lançamento em 1995, o custo do Mimo e dos recarregamentos mínimos periódicos tem vindo a diminuir, assistindo-se desde a entrada do terceiro operador a um reforço da concorrência a este nível, fruto da estratégia de penetração delineada pela Optimus.

Fontes: Costa, A., 1997; Freire, A., 1997a; Vasco, R., 1997; www.tmn.pt

2.1.6  REFORMULAÇÃO 

Este tipo de inovação pode por vezes ser confundido com o aperfeiçoamento gradual, no entanto apresenta algumas diferenças. Quando se efectua a reformulação do produto, existem, tal como no aperfeiçoamento gradual, alterações que são introduzidas no produto. Em ambas procura-se a satisfação do consumidor, mas na reformulação procura-se mais a manutenção dessa satisfação sem alterar, na generalidade, as características base do produto. Ao contrário, no aperfeiçoamento gradual, procura-se reforçar a satisfação do consumidor modificando um produto de base através da alteração ou adição de alguns elementos.
Alguns exemplos que correspondem a inovações deste tipo são:

  • Os iogurtes - A alteração da composição da mistura de ingredientes utilizado na preparação do iogurte (e.g. aumento da percentagem de açúcar) tem como objectivo adaptar as características organolépticas do produto às alterações das preferências do consumidor.

  • O  automóvel  - Quando um dado modelo de uma marca de automóveis se aproxima de uma fase do seu ciclo de vida em que as vendas estagnam ou começam a apresentar sinais de diminuição, a generalidade das empresas do sector efectuam o que normalmente se designa por re-styling ou refreshment. Esta operação tem alguns elementos de melhoria dos atributos do produto que poderiam ser classificados como inovações do tipo aperfeiçoamento gradual. No entanto, não se verifica um esforço constante de melhoria, mas antes uma preocupação em continuar a assegurar a satisfação dos potenciais clientes utilizando o mesmo conjunto base de elementos e introduzindo um número limitado de modificações. A inovação ao nível do design normalmente tem uma grande importância nesta operação.

  • As pilhas  Duracell  - A principal preocupação ao desenvolver pilhas com um tempo de utilização superior, embora se esteja a adicionar valor ao produto anteriormente existente, é a manutenção da satisfação do consumidor, não se procurando alterar a percepção de fundo que este tem de uma pilha.

  • Tintas com cheiro a maçã - Em 1999, a empresa de tintas  Barbot  lançou no mercado tintas com cheiro a maçã. Não alterando as características funcionais do produto, esta nova tinta minimiza o impacto negativo associado ao cheiro que fica no interior da casa após a pintura. A Barbot vê deste modo aumentada a satisfação do consumidor que, durante o período em que o cheiro normalmente permanece, usufrui de um agradável odor a maçã.



O produto
O Skip Tablets é um detergente para máquinas de lavar roupa desenvolvido pela Lever. Este produto é apresentado em pequenas pastilhas que são colocadas dentro de uma rede difusora e introduzidas na máquina, em cima da carga a lavar. 

A inovação
Uma vez em contacto com a água, estas pastilhas (tabletes) começam a dissolver-se parecendo entrar em efervescência. Através deste processo, pretende-se efectuar um doseamento controlado do detergente e assegurar uma melhor distribuição através da rede difusora.
Tratando-se de um novo produto, com características distintivas, pode, no entanto, ser entendido como uma evolução dentro de uma gama de produtos com características equivalentes. O Skip Tablets surge como uma evolução em relação a outros produtos, nomeadamente o Skip em pó e o Skip concentrado. Com este novo produto, a  Lever  não pretende alterar as características fundamentais do Skip, embora estas aparentemente sejam distintas. A sua preocupação primeira é assegurar que os seus consumidores habituais continuem a ver satisfeitas as suas expectativas com os produtos Skip na lavagem de roupa em máquina.

Fonte: www.skip.lever.es

2.1.7  INOVAÇÃO DE SERVIÇO 

Neste caso cria-se um novo serviço, mas a inovação não está exclusivamente associada ao serviço em si, resultando sobretudo da sua utilização num determinado enquadramento que anteriormente não existia.
Alguns exemplos que correspondem a inovações deste tipo são:

  • Loja do Cidadão  - Os serviços que integram a Loja do Cidadão estavam já, todos eles, ao dispôr de qualquer cidadão português. A reunião desses serviços num mesmo espaço físico é que constitui a inovação, pois o cidadão pode passar a tratar no mesmo local de um conjunto de assuntos que anteriormente o obrigavam a deslocar-se a locais diversos, com todos os inconvenientes daí decorrentes.

  • A  Linha Atlântico ; o  BES Directo  - Permitem que os seus clientes efectuem consultas, transacções e outras operações sem terem que se dirigir a uma agência do respectivo banco.

  • O Banco 7 - Sendo uma inovação de processo, o Banco 7 (e todo o home banking em geral) pode ser também considerado inovação de serviço. Os produtos são essencialmente os mesmos, os processos são diferentes e a respectiva utilização traduz-se num serviço adicional que é disponibilizado ao cliente: o acesso à distância.

  • A Future Kids - Pretendendo transmitir o mesmo tipo de conhecimentos que outras empresas, as metodologias utilizadas pela Future Kids traduzem-se numa abordagem distintiva da formação em informática dirigida a crianças e jovens. Por isso, é possível afirmar que a principal inovação se encontra ao nível do serviço, pela forma como este é prestado.

  • O Pingo Doce Compra Directa - Para o Pingo Doce (como para todas as outras empresas presentes no Shopping Direct, a utilização da Internet como forma de comercializar os seus produtos e comunicar com os seus potenciais clientes constitui uma inovação de serviço, ao permitir a estes aceder a um serviço que conhecem, mas fazendo-o à distância

  • A  NET TV  - A possibilidade de aceder à Internet - anteriormente apenas acessível via computador pessoal - através de um outro meio, a televisão, enquadra-se igualmente neste tipo de inovação.



A empresa
O Grupo Logoplaste é um grupo português criado há 23 anos que se dedica ao fabrico de embalagem rígida em plástico. A empresa possui actualmente cerca de 30 unidades fabris, algumas das quais fora de Portugal, nomeadamente em Espanha, em França, no Reino Unido e no Brasil. Nos últimos anos, a Logoplaste tem seguido uma estratégia de crescimento, apostando na internacionalização. Nos dois últimos anos conseguiu crescimentos de 41% e 67%, em termos de quantidades produzidas.

A inovação
Os principais clientes da Logoplaste são as indústrias que necessitam de grandes volumes de embalagens rígidas em plástico. Entre estas, a indústria alimentar é a mais importante, em particular os sectores das águas, dos iogurtes, das margarinas, dos óleos alimentares e dos refrigerantes. Outras indústrias como as de produtos de limpeza (e.g. detergentes) incluem-se entre os seus clientes.
Face ao elevado número de embalagens que estas indústrias necessitam diariamente e aos elevados custos de armazenagem e transportes das mesmas, a Logoplaste desenvolveu um conceito de serviço inovador que passa pela criação de unidades integradas nos centros de produção dos seus clientes ou, caso isso não seja possível, de unidades que têm a produção exclusivamente afectada a um cliente e produzem com base numa filosofia de Just in time. A Logoplaste assegura a adaptação às necessidades específicas dos seus clientes e assume a responsabilidade total pela gestão do processo produtivo da embalagem, incluindo os investimentos em equipamentos, o abastecimento de matérias-primas e o controlo da qualidade. Este serviço é consubstanciado num contrato de médio/longo prazo, o que permite assegurar um elevado grau de fidelização dos seus clientes. A grande maioria dos clientes renovaram sucessivamente os contratos que haviam estabelecido inicialmente.

Fonte: www.plastico.com.br/revista/painel7n.htm

2.1.8  INOVAÇÃO DE DESIGN  

Quando o cliente não reconhece diferenças significativas entre um produto produzido por empresas concorrentes e compra indiferenciadamente uma qualquer marca, a inovação ao nível do design pode ser uma forma de diferenciação que, se valorizada pelo cliente, potencia as vendas. Neste tipo de inovação, como o próprio nome indica, o produto sofre alterações nos elementos do seu design (e.g. cor, forma, dimensão), mantendo no entanto inalteradas as suas funcionalidades.
O design é uma realidade inerente a todos os produtos com que lidamos no dia-à-dia. Este tipo de inovação é muito frequente, contudo é normalmente difícil enumerar exemplos. Quais os produtos cuja principal motivação de compra é o seu design? Cada um de nós será capaz de enumerar alguns, mas há poucos para os quais somos capazes de associar uma empresa ou uma marca. Importa salientar, e com isso talvez ajude a descobrir alguns, que o design é algo que o cliente valoriza em produtos duradouros.
Alguns exemplos onde se encontra inovação de design são:

  • O  automóvel  - Diversos estudos indicam que entre as principais motivações de compra se encontra o design. Algumas empresas apostam em inovar no design: independentemente do nível de sucesso já obtido, o novo  Volkwagen Carocha , o  Audi TT , o  Ford Ka , o  Renault Twingo  são alguns dos exemplos mais marcantes, em segmentos de mercados distintos. Isto revela que o design é uma preocupação independente do segmento de mercado.

  • Os cristais  Atlantis  e as loiças  Vista Alegre  - São dois exemplos paradigmáticos de empresas portuguesas que, através de um esforço permanente no design, conseguiram estabelecer uma reputação no mercado. A notoriedade atingida por estas marcas faz com que o consumidor não se dirija a elas por desejar uma peça de cristal ou de cerâmica mas por procurar especificamente um cristal Atlantis e uma peça Vista Alegre.

  • As motos  Harley Davidson  - Estas motos fazem parte da mitologia do mundo motorizado. A notoriedade que obtêm em todo o mundo deve muito ao seu design arrojado, completamente distinto do dos outros fabricantes mundiais de motociclos.

  • O mobiliário - Um dos principais critérios que os consumidores têm na escolha de mobiliário é o seu design. Neste tipo de produtos, em que cada consumidor se identifica mais ou menos com determinados estilos, as empresas necessitam de criar modelos que vão de encontro às suas expectativas. Empresas há que são capazes de criar produtos com uma coerência de imagem, reconhecíveis pelo público em geral. A  Cerne, no mobiliário de pinho, e a  Divani & Divani , nos sofás, são dois exemplos.



A empresa

O Swatch nasceu em 1983 da necessidade de combater os relógios japoneses - mais baratos, com menos componentes e de quartzo - que, na década de 70, provocaram a maior crise da indústria relojoeira suíça: nesta década, a quota de mercado da indústria relojoeira suíça era apenas de 20% contra 50% no início dos anos 50, período durante o qual a produção mundial aumentou 500%. A Swatch pertence ao grupo  SMH - Societé Micromécanique et Horlogère , o qual resultou da fusão de duas conceituadas empresas de relógios: a  ASUAG - Allgemeine Schweizer Uhrenindustrie  - e a  SSIH - Societé Suisse pour l'Industrie Horlogère .
O mentor destas transformações foi  Nicolas Hayek , presidente do grupo desde 1986. Foi também o "pai" da Swatch e é-lhe atribuído o mérito da recuperação da indústria relojoeira suíça, que viria a reconquistar a liderança do mercado mundial em 1984.
Hoje, a indústria suíça continua a crescer, contrariando o ambiente de desaceleração económica. Exportou 32,2 milhões de relógios em 98 , registando uma subida de 2,2% em relação a 97. A produção mundial de relógios em 98 foi de 1,3 mil milhões de unidades, mas destes apenas 40 milhões são de movimento mecânico.

A inovação
O Swatch (swiss mais watch) assentou, antes de mais, na redefinição do conceito de relógio: este deixou de ser avaliado exclusivamente com base na utilidade e na durabilidade para passar a ser visto como um acessório de moda com a qual a personalidade do utilizador se identifica.
Para que este conceito se consubstanciasse num produto o mais inovador possível, foi necessário desenvolver métodos de produção completamente novos para o seu fabrico e montagem, suportados por robots e computadores . Estas tecnologias permitiram produzir um relógio com preços competitivos e com uma elevada qualidade. O Swacth é um produto que integra diversas inovações de processo:

  • o seu mecanismo é composto por apenas 51 peças, ao contrário dos relógios tradicionais que normalmente têm mais de 100 peças;

  • a sua armação plástica é formada por uma única peça e o mecanismo é selado por soldagem ultrasónica em vez de ser aparafusado.

Ao nível do design, os primeiros modelos do Swatch eram pretos e convencionais, mas rapidamente se passou para uma nova fase em que a cor e o design adquiriram um papel-chave, tendo os modelos iniciais sido reformulados com fantasias de diversos artistas.
Ao nível dos canais de distribuição, a SMH introduziu igualmente um elemento inovador (inovação de serviço) ao não limitar a comercialização do produto em lojas especializadas, optando por uma estratégia de selecção dos canais em função dos mercados.
O sucesso do Swatch teve igualmente que ver com a capacidade de comunicação do conceito de acessório de moda que dá horas (inovação de conceito); o relógio passou a ser visto por muitas pessoas, não como um produto que se compra um número muito limitado de vezes na vida, mas como um produto de compra frequente: a ligação emocional estabelecida entre o Swatch e o consumidor leva a que este seja frequentemente objecto de compra por impulso. Com a comunicação desenvolvida, o termo Swatch traduz a imagem de um tipo particular de relógio (inovação de marca).
Em síntese, é possível encontrar num relógio Swatch inovações de diferentes tipos: de design, de processo, de marca, de conceito e de serviço. 

Fontes: Freire, A., 1997b; Silva, C., 1998; www.swatch.com; www.theswatchgroup.com; www.swatchmania.it

2.1.9  INOVAÇÃO DE EMBALAGEM 

Não sendo um elemento intrínseco ao produto, a embalagem é para muitos produtos, nomeadamente os de grande consumo, o primeiro elemento com o qual o cliente contacta e a partir do qual ele estabelece associações, verdadeiras ou não. Os atributos que o cliente associa ao produto a partir da embalagem, verdadeiros ou não, constituem a sua primeira motivação de compra. Esta é uma das motivações para as inovações ao nível da embalagem, mas existem outras duas igualmente importantes: a redução dos custos das embalagens e o aumento da segurança relativa à integridade do produto.
Alguns exemplos de inovação ao nível das embalagens são:

  • Coca-Cola  e o  Mateus Rosé  - Existem alguns produtos cuja identidade se confunde com a sua própria imagem. Para estes produtos a imagem é tão forte que as empresas receiam mexer no mais pequeno pormenor da embalagem pela reacção que possa causar junto dos consumidores. As garrafas da Coca-Cola e do Mateus Rosé são dois clássicos deste tipo. Estes dois exemplos, que poderiam ser classificados igualmente como inovação de design, servem para demonstrar que a separação entre os diferentes tipos de inovação não é completamente definida.

  • O  WC pato  - Este produto, como o nome transmite de uma forma extraordinária, diferencia-se de toda a concorrência pela revolucionária forma da embalagem, com a extremidade com o formato do pescoço de um pato. No entanto, a associação do nome à forma da embalagem não é o elemento-chave. O seu lema, "Vai onde os outros não chegam", traduz a vantagem competitiva que o produto apresenta: com tal forma, o WC Pato consegue desinfectar o rebordo das sanitas de forma eficiente, satisfazendo deste modo uma necessidade que se encontrava insatisfeita.

  • A abertura fácil - O desenvolvimento de embalagens metálicas com abertura fácil, como as das conservas de peixe e de carnes, foi uma inovação que introduziu uma maior conveniência na sua utilização pelo consumidor . As tampas de fecho fácil das embalagens Tetra Brik são uma inovação mais recente da Tetra Pak, na mesma linha de aumento da facilidade e comodidade na utilização da embalagem.

  • A embalagem das  Pringles  - Este novo produto é comercializado numa embalagem completamente revolucionária dentro do sector das batatas fritas. Embora tratando-se de um produto diferente, ao serem percepcionadas como batatas fritas, é com estas, e as respectivas embalagens, que o consumidor as compara.

  • O  Boomerang  da  Optimus  - A Optimus, ao arrancar como terceiro operador móvel de telecomunicações, lançou um produto para o segmento dos telemóveis recarregáveis: o Boomerang. Para reforçar a ideia que pretendia comunicar com o nome, este produto foi lançado numa embalagem com a forma de boomerang, que se tornou numa imagem perfeitamente reconhecível pelos portugueses. 



A empresa
A  Treta Pak  foi criada em 1951 na Suécia por  Ruben Rausing  e  Erik Wallenberg  e iniciou a sua actividade como subsidiária da  Akerlund & Rausing . Contudo, a investigação para o desenvolvimento de um novo sistema de embalamento remontava já a 1943. Assim se compreende que a primeira máquina do novo sistema de embalamento tenha sido apresentada logo após a constituição da empresa, e que se tenha instalado o primeiro equipamento, numa fábrica de lacticínios, no ano seguinte.

A inovação
O desenvolvimento das embalagens Tetra Brik, com aplicação a vários produtos, veio substituir outros tipos de embalagens já existentes. Uma das suas principais vantagens reside na maior protecção que consegue assegurar ao produto. Por exemplo, a utilização deste tipo de embalagens para o leite, em substituição de garrafas de vidro e sacos plásticos, permitiu eliminar as situações de degradação do produto por exposição à luz, as perdas por rotura dos sacos e a quebra das garrafas. Outra das suas vantagens reside na conveniência para o consumidor na utilização: por exemplo, no passado, existia sempre o problema de como evitar o derramamento do leite que ficava na embalagem de plástico, tornando-se muitas vezes necessário colocá-lo num outro recipiente para que tal não sucedesse. 
A embalagem Tetra Brik está directamente relacionada com o sistema de enchimento asséptico desenvolvido pela Tetra Pak, que garante as adequadas condições de assepsia nesta fase do processo. Para além desta garantia, que se traduz num aumento da segurança do produto, a utilização do sistema desenvolvido pela Tetra Pak também apresenta outro tipo de vantagens para a empresa. As embalagens Tetra Brik são montadas na própria linha de enchimento, imediatamente antes da introdução do líquido, recebendo as empresas o material que constitui a embalagem na forma de um rolo. Em termos logísticos dentro da empresa, a redução da necessidade de manuseamento dos materiais de embalagem permite obter diminuições de custo significativas. Também ao nível do transporte, este tipo de embalagem é aquele que actualmente minimiza os custos pois, dada a sua forma, todo o espaço é ocupado pelo produto, não existindo zonas vazias entre embalagens.

Fonte: www.tetrapak.com

2.1.10 A EMPRESA E O TIPO DE INOVAÇÃO 

No quadro 2.1 apresenta-se um resumo dos exemplos de tipos de inovação referidos neste sub-capítulo.

Quadro 2.1 - Síntese de exemplos dos tipos de inovação.

Ao analisar a tipologia das diferentes inovações, é possível percepcionar que diferentes tipos de inovação apresentam custos de desenvolvimento igualmente diferenciados. Por outro lado, os benefícios associados à inovação encontram-se proporcionalmente relacionados com os custos associados à implementação da mesma. Na generalidade dos casos, o custo da inovação aumenta à medida que se evolui de inovações de embalagem para inovações de conceito. No entanto, dada a multiplicidade de inovações que podem ocorrer, é perfeitamente natural que inovações de outros tipos possam ter custos de desenvolvimento superiores aos de tipos de inovação que se encontram normalmente posicionados acima (e.g. embora na maior parte das vezes as inovações de embalagem tenham um custo inferior à inovação de serviço, existem situações em que se passa o inverso). A figura 2.1. traduz esta ideia.

Fig. 2.1 - Relação entre o custo e o benefício dos diferentes tipos de inovação e suas posições relativas.

A selecção do tipo de inovação mais adequado a cada empresa deverá ser efectuada tendo por base três factores chave: a atractividade do mercado, a capacidade da empresa e o timing da inovação.

A atractividade do mercado está relacionada com o potencial que a inovação apresenta para a empresa. Entre os principais elementos de atractividade do mercado encontram-se:

  • a dimensão do mercado;

  • a taxa de crescimento do mercado;

  • a competitividade no mercado;

  • a rentabilidade potencial;

  • o potencial de sinergia com outros produtos ou actividades da empresa.

O outro factor-chave, a capacidade da empresa, é constituído pela ligação da globalidade dos elementos intrínsecos à empresa:

  • os recursos humanos;

  • os meios tecnológicos;

  • os meios financeiros;

  • o know-how técnico;

  • o conhecimento dos mercados.

São estes elementos que determinam o posicionamento competitivo da empresa face ao mercado em que está ou pretende estar inserida. 


O timing da inovação é um factor igualmente importante que se encontra directamente relacionado com a oportunidade. A figura 2.2 representa a curva típica do  ciclo de vida  de um produto. Inovações que coincidam com a fase inicial apresentam um risco mais elevado, mas simultaneamente um maior potencial em termos de benefícios. À medida que a entrada de uma empresa é efectuada em fases posteriores do ciclo de vida do produto, o risco diminui, mas igualmente o potencial associado à inovação. Ao longo do ciclo de vida de um produto, as inovações que o acompanham tendem a evoluir de inovação de conceito até inovação de embalagem, esta última na sua fase final. Podendo coexistir diferentes tipos de inovação numa mesma fase do ciclo de vida, a inovação em causa dependerá do balanço entre a atractividade do mercado e a capacidade da empresa.

Fig. 2.2 - Os diferentes tipos de inovação ao longo do ciclo de vida de um produto e a relação com a capacidade de inovação da empresa.

© SPI - Sociedade Portuguesa de Inovação, 1999
Edição e Produção Editorial: Principia.    Execução Técnica: Cast, Lda.