Explorando algumas novas ideias no
capítulo 4, perspectivámos a gestão da inovação essencialmente como um passo evolutivo numa visão mais global do desenvolvimento das empresas, inseridas num ambiente cada vez mais competitivo e aberto aos mercados.
Na sua essência, uma empresa é uma realidade social, cujo sucesso depende de um envolvimento adequado na comunidade em que se insere e para a qual trabalha. A cultura das empresas reflecte um determinado posicionamento no mercado e na envolvente sociológica.
Tal como a realidade sócio-cultural é extremamente diversa, também as empresas não são uma realidade una: há empresas bem sucedidas com naturezas e missões completamente distintas. Não existe uma solução ou padrão evolutivo que deva ser aplicado indiscriminadamente a uma empresa só pelo facto de o ser, em geral, às outras. Cada caso é um caso.
A complexidade e sofisticação dos mercados mundiais acentua cada vez mais as potencialidades de diversificação dos agentes económicos. Quanto maior for a capacidade de uma empresa estabelecer a sua própria cultura, modo de trabalhar os seus produtos, processos e mercados e a sua inserção num universo abrangente próprio, melhores serão as suas capacidades evolutivas.
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É importante que cada empresa defina a sua realidade intrínseca e extrínseca e evite a importação directa de padrões, métodos ou ideias.
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Tendo salvaguardado esta regra fundamental, podemos abordar mais descomplexadamente a evolução geral da cultura empresarial que discutimos neste livro. Encontrar padrões globais de evolução ajuda a perspectivar as grandes linhas de força que afectarão todas as empresas em geral, sabendo que cada uma poderá encarar os novos desafios e oportunidades de uma forma que entenda mais adequada à sua natureza e missão.
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As empresas sentem em geral uma necessidade de evolução progressiva que lhes confira uma capacidade crescente de se adaptarem às oportunidades de mercado e de responderem rapidamente às suas mutações.
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As empresas vão deslocando o centro das suas preocupações da perfeição e eficiência tecnológica para a perfeição e eficiência comercial (uma vez que a segunda continua a exigir em grande medida a primeira, esta evolução é cumulativa, isto é, um dos pratos da balança fica mais pesado, embora o outro continue a ter o mesmo peso absoluto).
A implementação de sistemas de qualidade, e sobretudo da qualidade total, constitui um marco importante neste caminho que grande parte das empresas já abraçou. A garantia de qualidade e a minimização de erros e falhas faz parte de uma estratégia fundamental de relacionamento da empresa com os seus clientes e com os utilizadores/consumidores dos seus produtos. Como garantia de sucesso no mercado, entendemos que é importante saber o que o mercado quer e entregar-lhe produtos que cumpram, ou mesmo ultrapassem, as suas expectativas.
Como os mercados não são uma realidade estática, só conseguimos atingir este objectivo se formos sempre adaptando o portfolio de produtos da empresa aos novos requisitos e oportunidades que a evolução dos mercados continuamente cria. Podemos fazer isso reactivamente, actuando só quando identificamos problemas no nosso relacionamento com o mercado, ou proactivamente, tentando identificar necessidades e oportunidades que se perfilam, antes mesmo de o mercado as ter absorvido. Assim sendo, a inovação surge como uma necessidade fundamental.
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A inovação é uma actividade que, por definição, aumenta os riscos e custos da empresa, o que funciona no sentido oposto às necessidades de eficácia que a competitividade exige. Desse modo, a inovação direccionada para o sucesso no mercado é abrangente, utilizando uma metodologia de gestão adequada para retirar de si própria todas as mais-valias possíveis.
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A gestão da inovação aparece assim como mais um passo na direcção dos mercados: responder melhor, com maior rapidez e flexibilidade, minimizando os custos e riscos do insucesso, numa actividade recheada de bens intangíveis, difíceis de quantificar.
Os recursos humanos próprios da empresa e o modo como esta desenvolve o seu "conhecimento nuclear", isto é, aquilo que sabe fazer bem e o modo como o faz, são mais-valias essenciais para minimizar custos e aumentar o sucesso, quer de uma política de qualidade, quer de uma estratégia de inovação. Progressivamente, a diferenciação entre empresas estabelece-se pelo modo como trabalham os mercados, mais do que pelo modo como trabalham as matérias-primas, ou seja, pela atitude face aos mercados mais do que pela atitude face às tecnologias. Estas últimas diferenciam cada vez menos as empresas, à medida que o mundo empresarial as vai tratando cada vez mais como um instrumento para atingir os seus fins, diminuindo as barreiras psicológicas e até emotivas à renovação de tecnologias e processos. A inovação tecnológica que permita servir melhor o posicionamento estratégico no mercado é fundamental, a inovação tecnológica por si só tem um interesse diminuto.
Assim, a inovação torna-se uma preocupação fulcral de todos os níveis da empresa, não dizendo respeito apenas aos departamentos técnicos ou à administração.
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Qualquer inovação deve ser produzida e digerida pela empresa no seu todo.
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Neste percurso, é marcante a importância da base de conhecimento desenvolvida pela empresa à medida que vai evoluindo. Uma empresa em evolução não pode desperdiçar a experiência acumulada nem as formas de trabalhar cada vez mais adequadas aos fins que vão sendo geradas pela sua actividade de inovação.
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A gestão do conhecimento torna-se um elemento fundamental a implementar numa fase subsequente à da gestão da inovação.
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O desenvolvimento de sistemas de informação, caso ainda não fosse fulcral para a actividade da empresa, passa a sê-lo agora, visto tratar-se de um requisito básico para um bom sistema de gestão do conhecimento.
A importância dos sistemas de informação e do intercâmbio de informação era já crescente na fase de gestão da inovação, dado que soluções inovadoras requerem frequentemente parcerias estratégicas, cooperação entre empresas ou outsourcing, nos quais é determinante a eficiência da transmissão de informação entre diferentes elementos de uma cadeia ou equipa, dentro e fora da empresa.
"Artilhados" com sistemas de gestão da qualidade, gestão da inovação e gestão do conhecimento, perspectivamos empresas com grande flexibilidade e capacidade de resposta ao mercado, que podem cumprir os seus objectivos definindo grandes linhas estratégicas e direcções de evolução, capazes de quotidianamente ajustar produtos, processos ou formas de operar. Conforme sugerido pela teoria dos sistemas complexos, é mais importante ser capaz de ajustar a empresa às variadas perturbações e evoluções, mais ou menos imprevisíveis, dos diversos factores que a afectam e que afectam sua relação com os mercados, do que teimar numa estratégia planeada mas desligada das realidades que se forem acumulando.
Neste livro, a importância das tecnologias cognitivas e do factor humano na gestão da inovação e na gestão empresarial em geral foi particularmente marcada. Os mercados e as parcerias a que as empresas cada vez mais recorrem são realidades fortemente dependentes deste factor humano, que envolve a capacidade de entrosamento entre pessoas, baseado no cumprimento de expectativas de uns e outros e na capacidade de comunicação eficaz.
No
primeiro capítulo do livro concluímos sobre a necessidade de uma gestão eficiente da inovação e explorámos o modo como isso implica uma visão adequada da realidade sócio-cultural da empresa. Identificámos três factores fundamentais para o sucesso da inovação empresarial moderna:
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1. As soluções devem ser talhadas na empresa, envolver todos os níveis relevantes da estrutura interna e recorrer ao exterior consoante necessário, não "importando" soluções feitas.
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2. Os objectivos e expectativas de acções de inovação devem ser entendidos e partilhados por todos, dentro e fora da empresa (incluindo os clientes).
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3. A empresa necessita de uma boa capacidade de auto-aprendizagem - absorver, reflectir e transformar a informação adquirida e as experiências, integrando-as na sua base de conhecimento.
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Estes factores e as necessidades de uma inovação direccionada para o mercado levaram-nos a revisitar as capacidades fundamentais que uma empresa deve desenvolver para assegurar o seu sucesso:
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1. Capacidades estratégicas - orientação da actividade, conhecimento da sua natureza e missão, adequação da forma de intervenção no mercado a estas realidades, perspectivas e objectivos da evolução da empresa, estratégias comerciais.
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2. Capacidades organizativas - organização da própria empresa, estruturas internas, relacionamento com o exterior, organização de equipas e de trabalhos de inovação, gestão de recursos humanos adequada à inovação.
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3. Capacidades técnicas ou funcionais - conhecimento de produtos e processos, tecnologias e know-how em geral.
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4. Capacidades de mercado - conhecimento dos segmentos trabalhados, características e perspectivas de evolução, identificação das expectativas e preferências dos clientes e sua evolução, posicionamento no mercado.
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5. Capacidades de aprendizagem - evolução da base de conhecimento, adaptação e melhoria de práticas.
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Ao explorar os sistemas de inovação do ponto de vista conceptual no
capítulo 2, concluímos ser importante o desenvolvimento das competências de trabalho em equipa, num conceito que extravasa o universo da empresa, dado que na operação virada para o mercado existem vários agentes externos que são fundamentais. O conceito de parcerias entre empresas reforça-se progressivamente. Tal como uma empresa espera de um indivíduo que este seja um bom elemento da sua equipa de recursos humanos, poder-se-ia dizer que o mercado espera de uma empresa que esta seja um bom elemento da sua equipa
"económica". A capacidade de trabalhar em equipa aplica-se também à empresa como um todo - as empresas isoladas não existem verdadeiramente, poderá é haver empresas que são maus elementos de equipa.
No
capítulo 3 explorámos alguns princípios fundamentais da gestão da inovação:
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separar a geração de ideias da sua análise;
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dispor de metodologias apropriadas de gestação de ideias;
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aplicar eficientemente metodologias sistematizadas de análise de ideias e de planeamento e execução de projectos;
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gerir eficazmente trabalhos de equipa.
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Concluímos ser fundamental que cada fase do trabalho seja tratada de acordo com a sua natureza, requerendo abordagens e métodos de trabalho diferentes consoante os seus objectivos, tendo dado primazia ao cumprimento dos objectivos em detrimento da aplicação de soluções rígidas.
Acima de tudo, recomendámos que cada empresa desenvolva activamente o seu modo de trabalho, que utilize como pontos de partida as técnicas de gestão de inovação ou de execução de determinado tipo de trabalho, e que, a partir da sua própria experiência, desenvolva o sistema mais adequado às suas realidades específicas. Se não nascer inovação dentro da empresa, a inovação que nasce fora dificilmente corresponderá aos nossos requisitos de flexibilidade, capacidade de resposta, eficácia, minimização de custos e riscos, ou seja, dificilmente será bem sucedida. Por outro lado, a inovação gerada dentro da empresa saberá certamente ir buscar a inovação gerada fora consoante as necessidades.
Ficaram também no
capítulo 3 várias sugestões de técnicas de trabalho, particularmente úteis para a gestão da inovação. A partir destas sugestões, não há como experimentar: ir em frente e desenvolver a abordagem mais apropriada às necessidades, objectivos e realidade da empresa. Seguindo o conselho de Henry Ford:
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